Vocês sabem o que são chambaras? E sabiam que podemos considerá-las como
tokusatsu, mesmo fugindo do padrão que conhecemos? Vamos responder a essas perguntas e contar muitas curiosidades sobre isto.
Chambaras são filmes e séries japonesas que retratam o Japão feudal. O termo vem de uma onomatopeia (palavras que simulam sons) designada como chan-chan-bara-bara que seria a representação do barulho de impacto entre espadas de metal. Estes tipos de produção também podem ser chamados de Ken geki (filmes e séries de capa e espada), Jidai-Geki (filmes e séries de fundo histórico) ou nippo heroes (forma menos conhecida, que começou a ser usado após a popularidade do filme O Último Samurai de 2003 nos EUA).
Estamos falando de uma das formas mais antigas de se fazer filmes no Japão. Apesar de terem surgido na década de 1940, ganharam popularidade a partir de 1954 após o estrondoso sucesso de
Os Sete Samurais, de
Akira Kurosawa. Ganhador de um Oscar de melhor filme estrangeiro e ainda concorreu em outras categorias.
Por que chambaras podem ser chamados de tokusatsu? Para respondermos a essa pergunta, precisamos entender o que é tokusatsu segundo a visão japonesa. Para nós, tokusatsu são séries e filmes de super-heróis com efeitos especiais pirotécnicos que seguem padrões de franquias já consagradas como: Ultraman, Super Sentai (até Shinkenger teve inspiração em chambara) e Kamen Rider, mas para os japoneses significado vai além disto.
A etimologia da palavra tokusatsu vem de tokushu satsuei e significa filmes e séries com efeitos especiais. Ou seja, os japoneses reconhecem as mesmas coisas que nós como tokusatsu, mas não ficam restritos apenas ao modelo que nós no Brasil restringimos. Por mais que aqui não se aceite essa designação para outras coisas além de “séries de super-heróis japoneses”, no Japão tanto filmes quanto séries, como Power Rangers, Marvel, DC etc. são também tokusatsu se envolve os tais efeitos especiais.
Vale salientar que, além dos heróis que lutam contra monstros de borracha usando látex em franquias que perduram por anos, os japoneses consideram dois gêneros que são as formas mais antigas de se fazer
tokusastu:
Kaiju eiga e os
chambaras.
Kaiju eiga são filmes e séries de monstros gigantes e considerados a gênesis do tokusatsu que conhecemos. O primeiro Godzilla de 1954 serviu como base para tokusatsu posteriores que influenciaria a forma de se fazer estas produções. Não se tinha efeitos especiais primorosos na época, mas o pouco que foi feito era suficiente para cativar o público mundial. De lá para cá, vieram muitos monstros no cinema e na tv japonesa.
No primeiro filme de 54 o
Godzilla
mal aparecia, era só um dublê usando uma fantasia e destruindo maquetes. Não eram bem “efeitos especiais” como as que viriam a dominar as produções a partir da década de 1970 com algo mais pirotécnico, mas eram efeitos especiais, por mais precários que fossem. Afinal, não se iria construir um robô no formato de um lagarto gigante e destruir prédios de verdade, não é?
Assim como kaiju eiga não se usou efeitos especiais como ficaram conhecidos com as produções tradicionais das décadas de 1970 e 1980, os chambaras também não usam efeitos especiais da mesma forma. Por exemplo: para um samurai cortar outro no meio usa-se efeitos especiais, pois não se pode matar um dublê de verdade para isto. Se isso não é usar efeitos especiais, então não sei mais o que pode ser, pois em chambaras vemos o tempo todo decapitações, explosões e creio que nenhum dublê morreria por um salário que não teria como gastar.
É importante notar que os kaiju eiga e os chambaras podem ser mais apreciadas por um público mais velho. Ou seja, crianças e adolescentes não costumam consumir esse tipo de produção. Os dois gêneros são consumidos normalmente por um público acima dos 45 anos e ganham status de cult. No caso dos chambaras, são um tipo de tokusatsu para um público mais próximo da terceira idade, consumidor ávido de histórias de samurais.
Os chambaras ganharam força após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e como o Japão se aliou a Alemanha Nazista e com a derrota foi atacado com duas bombas nucleares pelos americanos, os cineastas resolveram tentar resgatar o “orgulho nacional” do passado do país em suas obras. A figura violenta e cruel do samurai ganharia uma versão mais romantizada com trejeitos do teatro kabuki (que também influenciam os gêneros mais famosos de tokusatsu no Brasil), os chambaras saíram dos palcos e ganharam as telas conquistando uma geração que puderam olhar o passado com honra e glória dos samurais.
Só que os chambaras não se prenderam apenas a figura do samurai ou ronin. Vamos encontrar chambaras que retratam o estilo de vida de ninjas, monges, ainus, kabukis, shoguns, sacerdotes, médiuns, ladrões etc. Qualquer filme ou série que retrate o Japão feudal e que tenham embates de espadas (praticamente em 99% dos casos) são considerados chambaras.
O gênero começou com os nomes como Daisuke Ito, Hiroshi Inagaki e Masahiro Makino. Eles moldaram os chambaras a partir da década de 1950 para o formato como conhecemos atualmente. Apesar disto este gênero só veio se consagrar no Japão e no resto do mundo com a figura emblemática de Akira Kurosawa um dos maiores gênios do cinema.
Com Kurosawa os chambaras influenciaram até mesmo a indústria cinematográfica do ocidente. Famosos filmes de western buscaram inspirações em suas produções, como Sete Homens e um Destino que é uma adaptação escancarada de Os Sete Samurais (1954), uma das grandes obras deste cineasta.
Os chambaras estão se modernizando e como o Japão é um país que está envelhecendo rápido, cineastas e diretores deste tipo de produções em séries estão buscando novas formas e se adaptar aos novos públicos.
Saem de cena os chambaras tradicionais com pitadas de seriedade e entram os mais leves, entre eles o mais famoso é o Samurai Neko, que conquistou uma legião de fãs no Japão, principalmente entre o público mais jovem.
Para alcançar ainda mais os jovens existem
chambaras que são adaptações de
mangás
e
games muitos famosos como
Azumi,
Shinobi
e
Rurouni Kenshin, que usam de efeitos especiais pirotécnicos famosos em franquias mais conhecidas de produções de
tokusatsu
atuais para fazer com que a nova geração olhe para o seu passado.
Atualmente ainda existem produções que se mantem fiel ao clássico, mas visando adaptar-se para os novos tempos, sem deixar para trás a essência da alma dos samurais. Talvez o público mais antigo não se acostume como o modo em que os chambaras estão sendo feitos, mas é uma forma de não deixar este tipo de entretenimento acabar. E pela forma em que os chambaras modernos estão sendo feitos, acaba sendo uma forma de respeitar suas origens.
O passado do Japão é rodeado de mitos, lendas e cenários memoráveis que podem ser retratados de diversas formas, e a chance de conhecer o passado está aí em quase 70 anos de chambaras. Permitam-se conhecer estes tipos de produções que podem sim serem chamados de tokusatsu e que podem encantar.
APROVEITEM!!
Rodrigo Pato escreveu escutando músicas dos tempos dos samurais.