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30 anos de ‘Godzilla VS Destoroyah’

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Em 1995, especificamente em 9 de dezembro, chegava aos cinemas japoneses Godzilla VS Destoroyah (muitas vezes escrito como Destroyer, destruidor em inglês, mas o correto é Destoroyah), o filme que encerrou a considerada era Heisei (1989-2019) do monstrão, que começou com Godzilla de 1984, conhecido internacionalmente como O Retorno de Godzilla.

Foi uma longa jornada com um universo contínuo, diferente dos filmes da era Showa (1926-1989) que eram em sua maioria histórias mais autocentradas, retornando com muitos monstros e conceitos do próprio universo do Godzilla, com direito a novas versões de Mothra, King Ghidorah, Rodan (Radon no original), MOGERA (do filme Chikyuu Boueigun de 1957, conhecido internacionalmente como The Mysterians) e MechaGodzilla, bem como monstros totalmente inéditos, como Biollante, Battra, SpaceGodzilla e o grande destaque desse filme, o Destoroyah.

O Caminho até o nascimento de Destoroyah

A princípio, Destoroyah não seria o kaiju adversário do Rei dos Monstros. Tivemos alguns projetos descartados. O vilão originalmente seria o Ghost Godzilla, a alma do Godzilla original, que morreu na baía de Tóquio em 1954, com a explosão do Oxygen Destroyer (Destruidor de Oxigênio) criado pelo Dr. Daisuke Serizawa (Akihiko Hirata).

Em um dos roteiros iniciais, o monstro fantasmagórico tomaria posse de uma nova criatura chamada Baraguirus, uma fusão de Baragon com Anguirus. Depois tiveram a ideia de que o espírito invadiria o corpo apenas de Anguirus, resultando na criação de um kaiju híbrido que chamaria Godzirus. Em uma terceira versão, a vítima da vez seria o LittleGodzilla (a versão da era Heisei do Minilla, o filho do Godzilla). A possessão faria com que ele se transformasse de dentro para fora, crescendo rapidamente até adquirir uma aparência semelhante ao Godzilla de 1954.

Essa transformação abrupta deixaria seu corpo coberto de fendas e rasgos, e seus olhos se tornavam totalmente brancos, sem pupilas visíveis (detalhe de design que foi utilizado depois na versão do Godzilla do filme Godzilla, Mothra and King Ghidorah: Daikajuu Soukougeki de 2001).

Ghost Godzilla foi descartado, segundo o diretor Takao Okawara, porque os dois inimigos dos filmes anteriores, Mechagodzilla e SpaceGodzilla, já eram outras versões análogas do Rei dos Monstros. Apresentar um terceiro filme colocando Godzilla contra outra cópia de si mesmo “não teria sido uma boa ideia“, segundo Takao.

Na história do filme, Destoroyah nasceu de uma colônia de crustáceos microscópicos da era Pré-cambriana (cerca de 4,6 bilhões a 541 milhões de anos atrás), que sofreu uma enorme mutação após a explosão do Oxygen Destroyer em 1954. Interessante notar que ambos, Ghost Godzilla e Destoroyah, têm conexões com a morte do Godzilla original.
O design da maioria de suas formas foi criado por Minoru Yoshida, que entrou na franquia em 1991 no filme Godzilla vs. King Ghidorah e trabalhou também em um título que nunca saiu dos estágios iniciais de projeto, o Mothra vs. Bagan. Sua forma final, chamada de Kanzen-tai (algo como forma completa, mas geralmente é traduzida como Perfect Form) foi criada originalmente por Noriyoshi Ohrai, e é creditada no filme para Hideo Okamoto.

Ohrai trabalhou em todos os pôsteres para a era Heisei do Godzilla. Seu design original da última forma do Destoroyah tem forte influência do personagem Devilman, criado pelo mangaká Go Nagai. Godzilla VS Destoroyah é o único filme da era Heisei em que o pôster feito por Ohrai apresenta ao fundo o Godzilla e em primeiro plano seu oponente, a ideia por trás disso (segundo Ohrai) é que mesmo sendo Destoroyah um monstro maligno, a possível destruição do planeta poderia vir da fusão nuclear de Godzilla, tornando-o a verdadeira ameaça. Segundo Koichi Kawakita, diretor de efeitos especiais, o Destoroyah era o Oxygen Destroyer “vivo”, um inimigo digno para a morte do Godzilla.

No rascunho inicial, Destoroyah teve alguns nomes, como Baruboi e Death-X. No fim acabou sendo definido como Destoroyah, uma adaptação de Destroyer. Shogo Tomiyama, produtor do filme, observou que, ao contrário de Destroyer, que já era usado por lutadores de wrestling, Destoroyah era um nome inédito e poderia ser registrado sem problemas pela Toho.

A Morte de Godzilla

Para falar da morte de Godzilla, primeiramente precisamos falar da TriStar Pictures, produtora e distribuidora de cinema americana, parte do Sony Pictures Motion Picture Group.
Em 1992, a TriStar começou o desenvolvimento de um filme puramente americano de Godzilla. Vale lembrar que o primeiro filme, de 1954, tinha ganhado uma versão adaptada, inserindo cenas com um ator americano. Em 1998, então, chegou aos cinemas Godzilla, dirigido pelo cineasta Roland Emmerich.

Dado o projeto da TriStar, que envolveria originalmente uma trilogia, a Toho decidiu então parar a franquia em 1995, e voltar apenas em 2005 (para comemorar os 50 anos do Rei dos Monstros). Sendo assim, foi definido que no último filme da era Heisei, Godzilla morreria.
Na história, após a explosão de depósitos de urânio sob a Ilha Baas (ocorrida ao final de Godzilla VS SpaceGodzilla), Godzilla se transforma no extremamente poderoso Burning Godzilla, mas esse poder tem um custo: seu coração, que funciona como uma espécie de reator nuclear interno, está fora de controle e ameaça explodir ao chegar a uma temperatura específica, levando o planeta junto com ele.

Apesar do pôster e dos trailers de promoção do filme conterem a informação de que o Godzilla morreria (ゴジラ死す, Gojira shisu, Godzilla Morre), a forma como Godzilla morreria, seu inimigo no filme e a presença do Godzilla Junior foram mantidos em segredo até a exibição. Atores, equipe técnica e demais colaboradores foram todos submetidos a um rigoroso pacto de silêncio.

Em 24 de dezembro de 1995, foi organizado um tour memorial de Godzilla, no qual os participantes visitaram locais em Tóquio associados ao personagem antes de participarem do funeral de despedida realizado no Ariake Coliseum, no bairro de Koto, como parte de um evento em parceria com a Nihon Ryokou (uma empresa de viagens japonesa, seu nome significa literalmente Agência de Viagem Japonesa).

Um hiato que não aconteceu

Como dito anteriormente, a Toho planejava encerrar as produções da franquia até 2005, para dar espaço para a trilogia da TriStar. Trilogia essa que não vingou. Além do filme, a TriStar chegou a produzir uma série animada chamada Godzilla: The Series, com duas temporadas e uma soma de 40 episódios, mas parou por aí. Godzilla (1998) teve até um bom retorno financeiro para a produtora, mas devido às críticas negativas de uma enorme parcela de fãs, e também de críticos de cinema, a produtora desistiu dos dois vindouros filmes.

Sem uma versão americana para tomar espaço, a Toho então viu a oportunidade de voltar com as produções japonesas, e assim chegou aos cinemas em 1999 o filme Godzilla 2000: Millennium. Foi o começo de uma nova era, chamada de ‘Millennium’, que gerou mais seis filmes japoneses do Rei dos Monstros, fechando em 2004 com Godzilla Final Wars, comemorando os cinquenta anos do primeiro filme.

A TriStar ainda chegou a distribuir oficialmente diversos filmes japoneses da franquia, entre 1998 e 2005 nos Estados Unidos. O personagem criado em Godzilla (1998) chegou a aparecer e ser citado em outras mídias, sendo a mais lembrada pelos fãs a batalha em Sidney contra o Godzilla japonês em Final Wars.

A franquia permanece viva até hoje, e ganhou até uma nova versão americana em 2014, agora pela Legendary Pictures, que diferente da tentativa anterior vingou e criou um universo novo, chamado de Monsterverse, com diversos filmes e com uma série de TV.

No Japão, tivemos dois filmes novos, Shin Godzilla em 2016 e Godzilla Minus One em 2023 (esse comemorando os 70 anos da franquia). Tivemos também animações para Netflix, sendo uma trilogia de filmes em animação (Godzilla: Planeta dos Monstros (2017), Godzilla: Cidade no Limiar da Batalha (2018) e Godzilla: O Devorador de Planetas (2018)) e a série Godzilla Singular Point (2021) com treze episódios.

O “Godzilla Heisei” morreu em 1995, mas a franquia segue viva e forte até hoje.

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