Com certeza fica fácil quando alguém fala de Jaspion, Ultraman ou até mesmo Power Rangers, mas este tipo de produção vai muito além disto. Esta é uma pergunta que sempre é feita para quem curte e, principalmente, para quem cria conteúdo sobre tokusatsu. A palavra de certa forma têm duas formas de serem usadas, em seu significado e em como ficou popularizado, sendo que ambas estão totalmente interligadas.



O termo tokusatsu vem de “tokushu kouka satsuei“, que significa “filmagem com efeitos especiais”, apesar de muitas vezes ser usado apenas “filmes de efeitos especiais”, para filmes e séries em live-action (termo usado para produções com pessoais reais). Este termo também ficou popularizado para identificar filmes de monstros gigantes (kaijus) como Godzilla, e filmes e séries como as franquias de super heróis infanto-juvenis como: Kamen Rider, Metal Hero (Jaspion), Ultraman, Super Sentai (Changeman) e diversas produções para o cinema e para TV com formatos semelhantes.
Toda a criação do cinema daria muita história para contar, pois envolve esforço de muitos nomes, mas quando se trata do efeito especial, temos que pular para 1896 quando o ilusionista francês Georges Méliès começou a exibir seus filmes. Podemos afirmar que ele foi pioneiro nos efeitos especiais. Seu filme Le Voyage dans la Lune (Viagem à Lua), de apenas 14 minutos foi provavelmente o primeiro grande exemplo do uso de efeitos especiais (este filme possui uma imagem icônica até hoje de uma Lua com um rosto e uma nave que pousou em um de seus olhos).


Efeitos especiais é um termo que abrange diversos tipos de ações como: efeitos práticos, efeitos visuais, efeitos computadorizados, entre outros. O nascimento do efeito especial remete ao próprio surgimento do cinema com primeira exibição de um de um filme em 1895 com L’Arrivée d’un Train à La Ciotat (A Chegada do Trem na Estação) dos irmãos Lumière.
Este início do cinema não movimentou apenas o ocidente, mas o oriente também. No Japão ao fim do século 19 e começo do século 20, o país vivia a era Meiji, um período que se inicia uma forte influência dos Estados Unidos com abertura de seus portos. O cinema foi introduzido no Japão pela primeira vez em 25 de novembro de 1896, quando foi exibido algumas produções na cidade de Cobe, ocorrendo ali a primeira exibição pública de um filme no país.
No ano de 1898, foram produzidos alguns curtas-metragens e a primeira grande produção do cinema japonês ocorreu em 1913, quando o diretor e produtor Shozo Makino, considerado “pai” do cinema japonês, uniu-se ao ator Matsunoke Onobe para realizarem a primeira de várias versões de Chushingura (Os 47 Ronins). Makino pode ser considerado um grande percursor do tokusatsu, por começar a utilizar efeitos especiais em suas produções. Em 1921 um dos primeiros registros que temos sobre ninjas em filmes com efeitos especiais é em uma produção e Makino chamado Goketsu Jiraiya, um curta de cerca de 21 minutos.



As influências para estas produções são diversas: ficção científica, cinema, desenhos e séries de diversos países, super-heróis, artes marciais, contos, teatro tradicional, teatro kabuki, teatro bunraku, dentre tantas coisas que influenciaram e ainda influenciam tanto a atuação quanto a produção no Japão.
Antes do boom dos filmes de kaiju, a indústria cinematográfica japonesa do começo do século 20 usava a abreviação do termo tokushu gijutsu (特殊技術, tecnologia especial) ou, abreviado, tokugi (特技, técnica especial) e o termo tokusatsu como é usado hoje começou a ser usado e a ser popularizar graças a Eiji Tsuburaya .
Existem diversos nomes que também contribuíram como: Ishiro Honda (diretor de filmes como Godzilla e Rodan), Shotaro Ishinomori (mangaká criador de Kamen Rider e dos primeiro Super Sentai), Toru Hirayama (produtor da Toei que esteve à frente de muitas produções como as primeiras séries da franquia Kamen Rider), Susumu Yoshikawa (produtor da Toei conhecido como o “pai” dos Metal Heroes), Tomio Sagisu (fundador da P Production, produtora de Spectreman, Lion Man, entre outros), Takeyuki Suzuki (produtor da Toei responsável por muitos sucessos da franquia Super Sentai, principalmente nos anos 80), Shozo Uehara (roteirista de diversos episódios e séries da Toei e Tsuburaya), Susumu Takaku (roteirista de diversas séries da Toei), Nobuo Yajima (diretor de efeitos especiais que foi responsável por muitas produções da Toei e P Production), Sonny Chiba (famoso ator e fundador da JAC, empresa de dubles), Chumei Watanabe (compositor responsável por grandes trilhas de muitas produções) e tantos outros que fizeram parte do desenvolvimento, expansão e popularização do tokusatsu. A introdução e profissionalização de dublês de ação (principalmente com a Japan Action Club e a Oono Kenyukai) cresceu graças ao tokusatsu e colaborou muito com o desenvolvimento destas produções.



A POPULARIZAÇÃO
Com o lançamento e o sucesso de Godzilla em 1954 (Toho), a cadeira de diretor responsável pelos efeitos especiais começa ganhar destaque com Eiji Tsuburraya, e partir daqui o termo começa a ser utilizado e começa a se popularizar e se transformar em sinônimo de um gênero, após o Tsuburaya criar sua produtora e lançar Ultraman em 1966, pois o termo estava logo no subtítulo da série: Ultraman: Kuso tokusatsu shirizu (空想特 撮シリーズ), ou seja: Ultraman, série de fantasia e efeitos especiais.
Outros marcos para o gênero foram com Super Giant (Kotetsu no Kyojin) em 1957, considerado o primeiro super-herói japonês em live action, com uma série de curtas-metragens, e com a série do super herói Gekko Kamen, em 1958. Este período também teve influência e serviu como uma resposta aos sucessos de programas americanos como As Aventuras do Super-Homem, estrelada por George Reeves nos anos 1950.



Existem produtoras que se especializaram em produções responsáveis pela expansão e popularização de filmes e séries tokusatsu que estão na ativa até hoje como a Toho (Godzilla), Tsuburaya (Ultraman), Toei (Super Sentai e Kamen Rider) e Tohokushinsha (Garo) e outras que já não existem mais como a P Production (Spectreman) e Daiei (Gamera).
Por aqui diversas produções de tokusatsu fizeram muito sucesso, a princípio com National Kid (1960, Toei), Ultraman (1966, Tsuburaya), Vingadores do Espaço (1966, P Production), Ultraseven (1967, Tsuburaya), Robô Gigante (1968, Toei), Spectreman (1971, P-Production) e os filmes de Godzilla (Toho), dentre outras.


Sem sombra de dúvidas o auge deste gênero por aqui foi na década de 1980, que nos trouxe dois dos maiores ícones da cultura pop brasileira: o Metal Hero Jaspion e o Super Sentai Changeman, produções de 1985 da Toei. Graças a isto ocorreu uma grande “explosão” de lançamentos no Brasil.
O tokusatsu fez e ainda faz muito sucesso pelo mundo e marcaram gerações não apenas no Brasil, mas também na França, Portugal, Chile, Peru, Filipinas, Tailândia, entre outros.
COLABORAÇÃO AMERICANA
Os americanos também estão envolvidos com produções tokusatsu, a Marvel nos anos 1970 em parceria com a Toei colaborou com algumas produções, co-produzindo uma versão do Homem Aranha (que teve robô gigante, artificio também incluso após isto nos Super Sentai) e também algumas séries da franquia Super Sentai.


Em 1992 o empresário Haim Saban, um fã da franquia Super Sentai (formado por uma equipe de heróis representados por diversas cores e diferentes temáticas), comprou os direitos fora do Japão desta franquia e, misturando cenas japonesas com americanas, criou os Power Rangers (1993), o que colaborou ainda mais com a popularização do tokusatsu pelo mundo.
ATUALMENTE
A popularidade do tokusatsu é tamanha que existem produções que buscam seguir ou se inspirar em seus formatos em diversos países como China, Coréia do Sul, Tailândia e até mesmo aqui, como a produção independente Insector Sun e também inspiram diversas outras mídias.


O cinema japonês segue evoluindo seus efeitos especiais, as produções conhecidas hoje como tokusatsu seguem se renovando e apesar de soar datado para alguns. O sucesso destas produções não dá sinais de enfraquecer, seja com novas séries e filmes ou relembrando as antigas, o tokusatsu segue presente na cultura pop de todo o mundo.
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Indicações de textos:
Um pouco sobre a história da Japan Action Club
https://tokusatsu.com.br/um-pouco-sobre-a-jac
Conhece a história de Stan Lee e Sun Vulcan?
https://tokusatsu.com.br/conhece-a-historia-de-stan-lee-e-sun-vulcan
Indicações de Tokucast:
Tokucast #63 – Eiji Tsuburaya
https://tokusatsu.com.br/tokucast-63-eiji-tsuburaya
Um bate papo sobre aquele que é considerado um dos “pais” do tokusatsu moderno.
Tokucast #116 – Um pouco sobre a história da Japan Action Club
https://www.tokusatsu.com.br/tokucast-116-um-pouco-sobre-a-historia-da-japan-action-club
Um bate papo sobre a empresa de dublês e artistas que mudou as produções de super-herói em live action da Toei.
Tokucast #21 – Um pouco sobre Marvel, Toei e tokusatsu
https://www.tokusatsu.com.br/tokucast-21-um-pouco-sobre-marvel-toei-e-tokusatsu
Um bate papo sobre como a Marvel agregou na evolução das produções de super-herói em live action da Toei.
Tokucast #141 – Especial do Rei: Godzilla 1954
https://tokusatsu.com.br/tokucast-141-godzilla-1954
Um bate papo sobre Godzilla de 1954, um marco zero para o tokusatsu moderno.
Tokucast #94 – Gerações e Nostalgia
https://www.tokusatsu.com.br/tokucast-94-geracoes-e-nostalgia
Um bate papo contando um pouco da importância destas produções na vida de fãs brasileiros.
Tokucast #57 – Séries antes de Jaspion no Brasil
https://tokusatsubrasil.com.br/tokucast-57-series-antes-de-jaspion-no-brasil
Um bate papo sobre diversas produções que chegaram aqui bem antes do “boon” de Jaspion.
Tokucast #192 – A Ninjamania
https://tokusatsu.com.br/tokucast-192-a-ninjamania
Um bate papo sobre a ninjamania, mas contanto muito do inicio do mito e primórdios do tokusatsu no Japão
Tokucast #138 – Teatro Kabuki
https://www.tokusatsu.com.br/tokucast-138-teatro-kabuki
Um bate papo sobre a história do teatro kabuki com um profissional dançarino do Núcleo Experimental de Butô e Fujima Ryu de dança Kabuki.