Falar sobre a chegada de Changeman e Jaspion ao Brasil é mais do que relembrar duas séries que estrearam por aqui em 22 de fevereiro de 1988. É falar sobre o maior boom de tokusatsu que o país já viu.


Para entender esse fenômeno, precisamos voltar alguns anos antes dessa data, quando Toshihiko Egashira administrava uma locadora de vídeo no bairro da Liberdade, em São Paulo. O diferencial do local era o aluguel de programas gravados da TV japonesa para os descendentes de japoneses que moravam na região. Curiosamente, os conteúdos mais populares não eram apenas entre as crianças nipônicas, mas também entre as brasileiras — e, entre eles, os programas de heróis se destacavam.
Um de seus amigos, que era diretor do SBT na época, sugeriu a “Seu Toshi” que adquirisse os direitos de exibição de algumas dessas produções e as lançasse em vídeo no Brasil. Ele foi até o Japão e trouxe duas séries que haviam sido concluídas recentemente: Changeman e Jaspion. Assim, em 1987, nascia a Everest Vídeo.

O sucesso foi imediato, superando as expectativas e alcançando números impressionantes em comparação com outros programas e animes que ele já alugava. Isso levou à ideia de licenciar as produções para a exibição na televisão. No entanto, diversas emissoras recusaram, acreditando que a moda de outras séries tokusatsu, como Ultraman, Robô Gigante e National Kid, já havia passado.
Felizmente, uma agência pertencente ao grupo de Beto Carrero intermediou um acordo entre a Everest e a Rede Manchete. Assim, em 22 de fevereiro de 1988, o programa Clube da Criança iniciou uma verdadeira febre, conquistando fãs fiéis que permanecem até hoje.


As aventuras de um herói de armadura metálica com uma espada luminosa e de um grupo de guerreiros coloridos foram uma novidade impactante para as crianças brasileiras, acostumadas, em sua maioria, com desenhos animados. Com menos de um mês no ar, a exibição de Jaspion e Changeman já alcançava o segundo lugar em audiência.
Jaspion combinava ação, humor e suspense, apresentando vilões e coadjuvantes carismáticos que conquistaram o público. Já Changeman seguia uma linha similar, com aventuras dinâmicas e muitas explosões que encantavam as crianças. Além disso, ambas as séries traziam naves e veículos que se transformavam em robôs gigantes — um elemento inovador e fascinante em uma produção live-action para a época.

As reprises se estenderam por quase dois anos, mantendo o interesse do público infantil, mas também gerando um certo desgaste. No entanto, o enorme sucesso abriu caminho para a chegada de outras séries tokusatsu ao Brasil, a maioria exibida pela própria Rede Manchete. Outras emissoras, vendo o potencial do gênero, também buscaram ter seus próprios “Jaspion e Changeman”.
Esse boom de tokusatsu no Brasil não teve precedentes. Com o tempo, a saturação fez o público perder um pouco do interesse, mas a influência dessas séries permaneceu. Nos últimos anos, essa paixão tem se fortalecido, impulsionada pelos fãs que viveram a febre da época em que Jaspion e Changeman dominaram a televisão brasileira e o mercado de produtos licenciados — de quadrinhos e álbuns de figurinhas a chicletes e discos.
Hoje, o legado continua. Basta lembrar o alvoroço gerado pela reexibição das séries na TV Band durante a pandemia ou a expectativa sempre presente em torno do tão aguardado “filme do Jaspion“. Um legado importante, inesquecível e que jamais deve ser subestimado.
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Indicações de Tokucast após leitura deste texto:
Tokucast #24 – O Fantástico Jaspion
Tokucast #33 – Esquadrão Relâmpago Changeman