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‘Saru no Gundan’: ‘O Planeta dos Macacos’ no tokusatsu

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Transmitida no Japão entre 6 de outubro de 1974 e 30 de março de 1975, a série Saru no Gundan (猿の軍団, Exército dos Macacos) contou com 26 episódios e foi uma produção da Tsuburaya Productions, a mesma da franquia Ultraman. A ideia surgiu como resposta ao sucesso da franquia O Planeta dos Macacos no Japão. Inicialmente concebida como um programa infantojuvenil acessível a todas as idades, a obra buscava também preparar terreno para a adaptação televisiva do romance Japan Sinks, de Sakyo Komatsu.

Inspirado por obras de ficção científica e catástrofes como o filme A Grande Profecia de Nostradamus (Toho, 1974), o projeto reuniu grandes nomes da literatura japonesa da época: Sakyo Komatsu, Aritsune Toyota e Koji Tanaka. Komatsu, renomado autor de ficção científica, conhecido por obras como Japan Sinks, Virus e Sayonara Jupiter, trouxe uma visão crítica ao projeto, questionando a representação “caricatural” dos japoneses nos filmes americanos da franquia Planeta dos Macacos.

A proposta da Tsuburaya era ousada. O mundo dos macacos retratado na série foi baseado na vida rural japonesa, com o intuito de oferecer realismo e conter custos de produção. A trama também introduz uma diferença importante na representação das espécies de primatas: os chimpanzés foram retratados como militaristas e agressivos, enquanto os gorilas são pacíficos, uma inversão em relação à visão hollywoodiana.

A história começa quando a cientista Kazuko Izumi e duas crianças, Jiro e Yurika, são congeladas acidentalmente durante um terremoto e são despertadas no ano 3714, em um planeta dominado por macacos inteligentes. Rapidamente capturados, eles escapam e passam a ser caçados pelo autoritário chefe de polícia Geba. No caminho, fazem aliados como o menino macaco Pepe e o humano misterioso Godo, que também não sabe como foi parar ali.

A série mistura elementos de distopia, aventura e ficção tecnológica. Um disco voador misterioso observa todos os acontecimentos e revela-se controlado por UCOM, uma inteligência artificial criada em 2550 que, ao final do século XXX, decide exterminar os humanos. Ao descobrirem o segredo da existência de Yukomu (UCOM), os protagonistas precisam tomar uma decisão crucial: serem enviados para um outro planeta ou para outro período da história. No final, Godo segue para outro mundo, enquanto Jiro, Yurika e Izumi retornam a 1974.

A produção envolveu grande cuidado com o visual. Cerca de 50 máscaras de macacos foram confeccionadas a um custo alto para a época. A maquiagem ficou por conta de Kosuke Tamiya, que trabalhava com filmes de época, enquanto a empresa Zen Kogei, ligada à P-Productions (Spectreman, Lion Man), colaborou com os moldes. O diretor foi Kiyosumi Fukazawa, e os efeitos especiais ficaram a cargo de Kazuo Sagawa, veterano da franquia Ultraman. O roteirista Keiichi Abe tinha planos para continuações, que nunca se concretizaram.

O elenco principal trouxe nomes como Reiko Tokunaga (Kazuko Izumi), Hiroko Saito (Yurika), Masaaki Kaji (Jiro), Tetsuya Ushio (Godo) e Baku Hatakeyama (Geba). Vale destacar que Tetsuya Ushio foi o protagonista das séries de Lion-Man, Kaiketsu Lion-Maru (快傑ライオン丸, 1972) e Fuun Lion-Maru (風雲ライオン丸, 1973), dois clássicos do gênero da P-Productions que foram exibidos no Brasil e Baku Hatakeyama é o primeiro Kirenger de Himitsu Sentai Gorenger (秘密戦隊ゴレンジャー, 1975). A música foi composta por Toshiaki Tsushima de Wakusei Daisenso (惑星大戦争, The War in Space, 1977) e The Street Fighter (激突! 殺人拳, 1974).

Apesar de seu apelo regional, a série ganhou projeção apenas internacional em 1987, quando o produtor americano Sandy Frank editou vários episódios em um filme de 94 minutos chamado Time of the Apes. Exibido em canais de TV a cabo e lançado em VHS nos EUA, o longa ainda foi satirizado no programa Mystery Science Theater 3000 em 1989 e 1991, o que garantiu sobrevida cult à obra.

Saru no Gundan é um marco da ficção científica japonesa televisiva. Sem depender de heróis mascarados ou combates coreografados, a série apresenta uma narrativa madura, com questionamentos sobre inteligência artificial, autoritarismo, memória e sobrevivência. Com influências ocidentais e um DNA profundamente japonês, Saru no Gundan permanece como um exemplo corajoso de tokusatsu fora do padrão que se estabeleceu com kaijus e super-heróis.

Confira nossa resenha em áudio em nosso podcast sobre a série:

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