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Os designs conceituais de ‘Kamen Rider’ na Era Showa (1971-1975)

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Já é conhecido que as séries de tokusatsu passam por uma fase de pré-produção, na qual são projetados conceitos que podem ser utilizados, descartados ou reaproveitados, muitas vezes havendo vários conceitos simultâneos até se chegar à ideia definitiva. Neste texto, abordaremos alguns dos muitos designs conceituais do período inicial da Era Showa (1926-1989), que vai da série original Kamen Rider (仮面ライダー, 1971) até Kamen Rider Stronger (仮面ライダーストロンガー, 1975).

O projeto para um novo programa de herói da Toei passou por vários estágios de design e ideias conceituais entre o fim de 1969 e o início de 1971, quando todas as configurações foram decididas. Maskman K, Kamen Tenshi, Juuji Kamen, Crossfire e Skullman foram algumas ideias cogitadas e descartadas ao longo do tempo, algumas chegando a ter esboços de design e roteiro. Conforme surgiam novas ideias, novos visuais eram criados.

Quando Shotaro Ishinomori desistiu da ideia inicial de Crossfire e, em seguida, teve sua proposta de Skullman rejeitada pelos produtores, redesenhou o herói com um visual de gafanhoto — escolha inspirada por seu próprio filho.

Nas imagens: duas versões de Crossfire — uma com o capacete em forma de cruz, parcialmente reutilizado em Kaiketsu Zubat (快傑ズバット, 1977), e outra com capacete de leão com o kanji de “fogo”.

O conceito intitulado Crossfire mostrava um super-herói inspirado em Gekko Kamen (月光仮面, 1958), outro herói popular dos primórdios do tokusatsu na televisão. Ele seria um motoqueiro que usaria um capacete com uma cruz vermelha no visor. O nome do projeto mudou diversas vezes, chegando a ter os títulos de trabalho Juuji Kamen (Máscara de Cruz) e Juuji Kamen Rider. Posteriormente, Ishinomori criou outro design: um herói com máscara de leão e o kanji de fogo na testa.

Até novembro de 1970, os produtores da Mainichi e da Toei estavam satisfeitos com o andamento do desenvolvimento de seu novo herói Crossfire. Entretanto, Ishinomori abandonou a ideia por achá-la simples demais e parecida com Gekko Kamen, preferindo algo mais grotesco e impactante. Hiraiyama apresentou então Skullman aos produtores. Quando perguntaram por que Ishinomori não estava contente, Hiraiyama respondeu:

O senhor Ishinomori quer que o personagem seja mais grotesco e esquisito. Crossfire era muito simples e não causaria impacto.

Nas imagens: esboços de Shotaro Ishinomori para o traje do que seria o Skullman da TV.

Mesmo em desacordo com os produtores, a emissora Mainichi apresentou a “Proposta para Série de TV: Skullman” (provisoriamente chamado de Kamen Rider Skullman) entre o fim de novembro e o começo de dezembro de 1970. Os roteiros dos dois primeiros episódios já haviam sido escritos na fase de Crossfire — “O Bizarro Homem-Aranha” e “A Misteriosa Casa dos Horrores” — e foram adaptados para a nova ideia, mantendo alguns elementos anteriores.

Essa proposta tinha um clima sombrio: Takeshi Hongo era um fugitivo perseguido tanto pela Shocker quanto pelo governo japonês. Ruriko e Masaru, filhos do Dr. Midorikawa, o odiavam por acreditarem que ele havia matado seu pai. O protagonista oscilava entre o bem e o mal devido a uma lavagem cerebral incompleta.

Uma reminiscência de Crossfire era que Hongo fora remodelado por eletricidade e tinha uma enorme cicatriz em forma de cruz no rosto — elemento descartado na série, mas reutilizado no mangá como as cicatrizes sob os olhos.

Os produtores vetaram o projeto por considerarem caro demais e impróprio para o horário familiar, pois apresentava um protagonista com rosto de caveira e moral ambígua. Ishinomori tentou argumentar usando como exemplo a popularidade de Ougon Bat, mas não teve sucesso. A partir de dezembro de 1970, iniciou-se o desenvolvimento do conceito Midori Kamen Grasshopper/Kamen Rider Hopper King.

Midori Kamen Grasshopper, Kamen Rider Hopper King/King Hopper, Kamen Rider

Então, em dezembro houve novas reuniões no estúdio de Ishinomori, onde foi apresentada uma proposta para o que foi decidido depois como um design de “homem-gafanhoto” que o filho do autor escolheu. Inicialmente, na proposta Midori Kamen Grasshopper, o design do capacete era mais insetóide, com os olhos mais altos. Posteriormente, veio Kamen Rider Hopper King — e, por fim, encurtado somente para Kamen Rider, já com o design mais parecido com o que conhecemos hoje.

Por fim, em janeiro de 1971, baseado no esboço de Shotaro Ishinomori, Rikuo Mikami e Akira Takahashi retrabalharam o design, fazendo ajustes de proporção para que pudesse ser reproduzido em um traje real pela EX PRO, criando a versão final que ficou na série de TV.

Na série seguinte, Ishinomori fez vários esboços para o design de Kamen Rider V3 (仮面ライダーV3, 1973). Segundo consta, o maior incômodo de Ishinomori para o projeto de V3 foi que ele queria algo diferente dos visuais do primeiro e segundo, mas que ao mesmo tempo mantivesse as características visuais de um Rider. Então, foi feito um design novo com um fole no centro do rosto. Ele também projetou o cinto Double Typhoon, para representar a junção dos poderes dos dois primeiros Riders. Os Converter Lung (pulmões conversores de energia) já estavam presentes desde os primeiros rascunhos.

Embora Kamen Rider V3 tenha estreado em fevereiro de 1973 e Inazuman apenas em outubro, os projetos conceituais de ambas as produções se iniciaram ao mesmo tempo. Houve um design inicial com o título de “Papillon Z”, que se assemelhava um pouco ao visual de V3.

Por fim, para o design final do terceiro Rider, a libélula foi definida como base, com o cachecol representando a ideia de “asas duplas”, que passou de vermelho para branco. Embora o desenho final seja quase o mesmo que foi para a série de TV, os Converter Lung eram um pouco menores e verdes — alterados para prateado na versão final do traje real (embora um protótipo tenha seguido a especificação inicial). Nas versões em mangá de Bouken-Oh, de Mitsuru Sugaya (artista da Ishimori Pro), essa versão inicial se manteve.

Ainda para a série de V3, um segundo protagonista foi decidido: o Riderman, pensado como renovação da série e para manter a audiência com uma novidade. Nos esboços iniciais, seu braço mecânico teria armamentos mais pesados (como uma metralhadora). O design com a boca à mostra foi feito para reforçar a humanidade do personagem, já que ele era basicamente um humano comum com apenas um braço ciborgue.

Além de mais habilidades no braço, podemos ver que, nesse esboço, ambos os seus braços eram mecânicos. Ele teria um cinto de habilidades, chamado de “Typhoon quádruplo”, que foi descartado na versão final. Sua máscara e braço teriam mais acessórios e funcionalidades, e o capacete teria uma peça retrátil removível, semelhante ao Eye Slugger de Ultraseven.

Após a aparição de Riderman em Kamen Rider V3, a ideia de um “Kamen Rider com armas” ficou popular. Para o projeto inicial de Kamen Rider X (仮面ライダーX, 1974), o produtor Toru Hiraiyama pensou nessa proposta. Shotaro Ishinomori fez um esboço de um Rider baseado num besouro serra-pau, com uma bandoleira ao redor do corpo, já que ele seria um atirador e carregaria um rifle. O projeto, porém, evoluiu para X-Rider, que possuía o Ridol, um apetrecho que servia como bastão, sabre de esgrima e corda. Curiosamente, o conceito de “Rider pistoleiro” foi referenciado na linha de colecionáveis S.I.C., onde o boneco do X-Rider possui uma arma.

Ishinomori fez vários esboços para o X-Rider, incluindo um baseado em caracol, outro em besouro-veado, até que foi decidido criar um Rider mecânico aquático, baseado em uma barata-d ’água. Um dos desenhos tinha tubos de aqualung ligados à máscara.

Em outro desenho, podemos ver um design que se assemelha ao que viria a ser o Skyrider (仮面ライダー (スカイライダー), 1979) posteriormente. Passando por ideias diferentes, como uma com armadura peitoral, o desenho final foi decidido e foi para a série com algumas diferenças: luvas azuis, botas vermelhas e cores diferentes das da versão televisiva. Um traje protótipo, seguindo o rascunho inicial, foi feito e apareceu em revistas. Destaque para o Redizer e o Perfecter, partes encaixáveis manualmente na boca e nos olhos do capacete, cuja intenção era ressaltar os aspectos mecânicos do mesmo.

Na série seguinte, para o que se tornou Kamen Rider Amazon (仮面ライダーアマゾン, 1974), Ishinomori fez designs primários que ainda seguiam a ideia de inseto, como libélula e gafanhoto. A ideia era criar um Rider que também parecesse um kaijin, uma versão distorcida de Ichigo e Nigo.

Depois, quando foi definido que a base seria o lagarto-monitor, todo o design foi refeito para Dragon Rider, inspirado na popularidade de Bruce Lee (falecido no ano anterior). O herói viajaria pelo Japão derrotando inimigos, mas o plano foi descartado. Embora o corpo se pareça com o Amazon final, a máscara era totalmente diferente e ele usava uma jaqueta preta com a imagem de um dragão. Por fim, o design final foi para Amazon Rider, baseado no lagarto-monitor, na piranha e nos peixes Lofiformes.

Outro conceito pensado por Ishinomori era semelhante a Genshi Shounen Ryu (Menino Primitivo Ryu), de sua trilogia Ryuu (1970-72), mas a ideia acabou se aproximando mais de Tarzan, com um Rider que lutava de forma mais selvagem, sendo uma criança selvagem. O design final foi mais animalesco.

Com a premissa de retorno às raízes e de encerrar a franquia em grande estilo, Hiraiyama e Ishinomori trabalharam no projeto Kamen Rider Spark, sobre um herói que viajava pelo país enfrentando monstros mecânicos (readaptando a ideia do Dragon Rider). Porém, por restrições orçamentárias, a ideia foi remodelada para Kamen Rider Stronger (1975), um ciborgue com poderes elétricos e influência de filmes de faroeste, com um herói urbano e estiloso.

A inspiração de usar um besouro para um Rider já estava na mente de Ishinomori desde Kamen Rider X (1974), e Stronger seguiu essa linha. Seus designs descartados inspiraram Kamen Rider Kuuga (仮面ライダークウガ, 2000) e Kamen Rider Agito (仮面ライダーアギト, 2001) anos depois. O design final de Stronger, com peitoral, ombreiras e capacete protuberante, foi inspirado em trajes de futebol americano, esporte que o protagonista jogava, aproveitando a popularidade da liga japonesa na época.

Esboço final de Stronger e versões descartadas feitas por Ishinomori, reutilizadas na Era Heisei (1989-2019).

A forma Charge-Up, que na série se resume a uma mudança de cor no peitoral, nos desenhos iniciais consistia em hastes cortantes saindo dos ombros. Alguns esboços brutos para o capacete de Stronger também serviram de inspiração para Kamen Rider Kabuto (仮面ライダーカブト, 2006).

Ainda na série de Stronger, houve a Denpa Ningen Tackle, criada por Hiraiyama, uma heroína para acompanhar o Rider, respondendo a cartas de meninas que queriam uma personagem feminina para se inspirar. Baseada numa joaninha, com a boca à mostra (como o Riderman), nos esboços iniciais havia a forma Kamen Rider Tackle, com o capacete totalmente fechado e o Perfecter cobrindo a boca. A ideia era aplicá-la na segunda metade da série, remodelando a personagem, mas o encerramento prematuro por questões orçamentárias impediu isso.

Com isso, cobrimos o histórico dos designs de Kamen Rider das cinco séries da franquia (1971-1975) e retornamos em breve com contando mais sobre as séries seguintes.

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