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Review: No terceiro episódio, ‘Kamen Rider Zeztz’ desafia realidade e inconsciente

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O terceiro episódio de Kamen Rider Zeztz funciona como a conclusão natural do arco introdutório da série. Depois de dois capítulos que apresentaram o conceito dos Nightmares, a Divisão Paranormal e a dinâmica entre Baku e Zero, Erode (verbo inglês erode significa desgastar ou corroer aos poucos, conexão direta com o degaste do detetive Fujimi) coloca todas essas peças em movimento, entregando um clímax que mistura emoção, ação e construção de mundo.

Logo de início, chama atenção o contraste entre o humor excêntrico de Zero — agora tomando “chá” de gasolina — e a crescente tensão em torno de Fujimi. A dissolução da Divisão Paranormal, somada ao desgaste do próprio detetive, abre caminho para o triunfo temporário do Nightmare Bomba. Essa escolha narrativa é ousada: não apenas vemos a ameaça sair do mundo onírico para o real, como a série escancara as consequências disso, com a destruição da sede da polícia e a liberação de novos inimigos para o futuro.

O episódio também brilha no desenvolvimento de Baku. A hesitação inicial, seu medo diante do terror do Nightmare, é equilibrada pela coragem de lutar — mesmo sem entender totalmente as regras do jogo. A cena em que ele literalmente se “esticou” para surpreender o inimigo é criativa, reforçando a ideia de que a imaginação dentro do sonho pode virar arma. O detalhe de ele ser um “sonhador lúcido” e conseguir dormir sob demanda é um diferencial divertido, já começando a ser explorado como ferramenta narrativa.

Outro ponto positivo está na caracterização. O Zero como alívio cômico funciona bem para quebrar o peso da trama, enquanto Nox surge como um antagonista cheio de mistério e potencial. A aura de destruição que ele espalha no fim é um prenúncio de que a série pretende manter o tom sombrio. Além disso, o uso de detalhes como o “I’m on it” em inglês japonês e as mensagens enigmáticas nas telas do QG ajudam a dar textura e aumentar o interesse naquele universo.

Ainda assim, algumas dúvidas ficam no ar: se já houve outros casos, por que o mundo não acabou antes? Será que Zero exagera em suas previsões? Todos se lembrarão dos eventos ocorridos, como a lua vermelha? Essas questões, levantadas de propósito, podem render bons ganchos para episódios futuros. Outro ponto que gera estranheza é a noção de tempo: a sequência entre Baku ir à delegacia, voltar para casa e dormir novamente parece corrida, mas pode ser explicada pelo ritmo acelerado do episódio.

O Nightmare se manifestar no mundo real, assim como a transformação de Baku, já cria muitas perguntas neste terceiro episódio. Mas a principal, tratando-se de um fim de arco, é: qual trauma Baku viu no detetive Fujimi para justificar o desejo dele de explodir a delegacia?

Ainda filosofando sobre o episódio, a legenda utiliza “subconsciente”, mas como comentei no review anterior, a psicologia prefere o termo “inconsciente”. O conceito das três portas apresentadas no episódio segue dialogando com a psicanálise: as “portas do inconsciente” são, simbolicamente, os momentos e mecanismos pelos quais o conteúdo oculto da mente emerge à consciência — como os sonhos, os atos falhos e os sintomas psíquicos. A psicanálise, fundada por Sigmund Freud, utiliza estas “portas” ou “pontes” para desvendar desejos, medos e conflitos reprimidos, promovendo autoconhecimento.

Outro ponto interessante foi o simbolismo da lua vermelha, surgindo quando o fim do mundo se aproxima com a abertura da terceira porta do inconsciente de Fujimi e a manifestação do Nightmare no mundo real. Na tradição cristã, a Lua de Sangue é vista como um sinal profético que antecede o fim dos tempos, reforçando o peso simbólico da cena.

Em suma, foi um episódio sólido, que cumpre bem a função de “fim de arco inicial”. Ele apresenta o formato que provavelmente veremos daqui para frente — vilões da semana, portas do inconsciente, perigos que podem invadir a realidade —, mas também dá a sensação de que Zeztz está mais interessado em construir uma narrativa contínua do que apenas entregar lutas semanais. Se a série mantiver essa energia, o potencial para se tornar um dos grandes nomes da franquia é real.

Um ótimo fechamento de arco introdutório, com ação criativa, caracterização consistente e um mundo em expansão. Não é perfeito, mas deixa a expectativa altíssima para os próximos episódios.

Nota: 9/10

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