O quarto episódio de Kamen Rider Zeztz chega com uma mudança perceptível de ritmo. Depois de três capítulos de estreia que entregaram um tom quase cinematográfico, carregado de urgência e peso dramático, agora a série assume uma cadência mais episódica, lembrando que deve caminhar para perto dos cinquenta episódios. Essa quebra de expectativa não é negativa: é um ajuste natural, que equilibra a intensidade inicial com o formato clássico de “caso ou monstro da semana”.
No quarto episódio, Baku recebe a missão de proteger uma noiva durante um ensaio de casamento. O que parecia um trabalho simples logo se revela um pesadelo emocional: a noiva Miyuki guarda sentimentos pelo amigo de infância Ippei, que surge como potencial sonhador da vez. A trama ganha camadas ao misturar política (o pai da noiva é Ministro), romance frustrado e dilemas de desejo versus obrigação. Um velho conflito amplamente explorado na cultura pop, como no clássico filme A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday, 1953).


Enquanto Baku investiga, vemos também Fujimi e Nasuka firmarem seu papel como dupla “à la Arquivo X”, investigando os rastros dos Nightmares no mundo real. A série começa a construir, em paralelo, o caminho do herói e o da investigação policial — dois eixos que certamente vão se entrelaçar no futuro.
Um dos pontos mais interessantes é ver Baku ainda em formação. Ele hesita, sente culpa por erros passados e não se mostra invencível, sendo azarado tanto no mundo real quanto no mundo dos sonhos. O conhecimento que vai adquirindo sobre o que acontece o leva tanto ao êxito quanto à dúvida sobre sua própria capacidade. Zero reforça que ele já tem as ferramentas necessárias; o que falta é foco mental e confiança. Esse cuidado em desenvolver gradualmente o protagonista dá credibilidade e cria expectativa para sua evolução.
Visualmente, o episódio entrega momentos marcantes: o mundo invertido, a lua oca e vermelha, a Wing Capsem abrindo asas em pleno ar. O clímax vem quando Baku percebe que Miyuki é a verdadeira Sonhadora — aceitando ser atacada porque, em seu inconsciente, deseja ser “resgatada” pelo amigo de infância. É um desfecho que adiciona peso emocional ao monstro da semana, mostrando que cada vítima terá dilemas próprios e humanos.



O episódio 4 de Kamen Rider Zeztz cumpre dois papéis: consolida a série como uma narrativa de longo fôlego e, ao mesmo tempo, abre espaço para casos independentes. A troca de tom — do épico para o episódico — não é uma queda, mas uma adaptação necessária.
Além disso, o capítulo reforça o caráter filosófico da obra: seja pela metáfora das portas entre realidades, seja pelos desejos inconscientes, fica claro que Zeztz não se limita a ser apenas mais uma série de ação e venda de brinquedos. É um mergulho em sonhos, percepções e escolhas.
No fim, fica a sensação de que a série abriu uma nova porta — e que, ao atravessá-la, veremos o herói Baku se tornar, passo a passo, o agente definitivo que sua missão exige. Mas, até este momento chegar, ainda teremos muitos mistérios para desvendar.



Sobre a abertura, que estreou neste episódio: particularmente, não vi nenhuma inovação significativa. A música é envolvente e já havia sido divulgada anteriormente. O que chamou atenção foi uma cena em que todos aparecem em uma cidade em miniatura, como se fossem gigantes.
Nota: 7/10
Extra: Revendo os três primeiros episódios, ficou impossível não traçar paralelos com o filme Matrix (The Matrix, 1999). Assim como Neo, Baku começa a usar habilidades de um mundo “virtual” no mundo real. Da mesma forma, personagens como Nem e Nox transitam pelos sonhos alheios de modo independente, quase como programas ou intrusos que escaparam das regras, como Agente Smith e Trinity. Zero atua como um mentor que capacita, equipa e traz consciência da verdadeira realidade, à la Morpheus. Isso cria um núcleo de quatro figuras — herói, vilão, guia enigmático e mentor misterioso — que redefinem as regras desse universo. Claro que pode ser apenas uma coincidência ou uma grande convergência de referências e ideias.
Você precisa fazer login para comentar.