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A evolução das releituras em ‘Kamen Rider’

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A franquia Kamen Rider (仮面ライダー) iniciou em 1971 com a série original produzida pela Toei Company e criada pelo autor Shotaro Ishinomori e pelo produtor Toru Hiraiyama, seguindo ininterruptamente até 1975, quando foi ao ar Kamen Rider Stronger (仮面ライダーストロンガー), planejada para ser o seu encerramento. Nesse período, o fenômeno conhecido como Henshin Boom (a febre de séries de heróis com transformações iniciada nos anos 1970 no Japão) havia esfriado, e a produtora passou a investir em novos modelos de séries tokusatsu, como Akumaizer 3 (アクマイザー3, 1975), Himitsu Sentai Gorenger (秘密戦隊ゴレンジャー , 1975) e J.A.K.Q Dengekitai (ジャッカー電撃隊, 1977).

Em 1977, um novo “boom de ficção científica” surgiu no Japão graças ao sucesso do filme animado Patrulha Estelar Yamato, reforçado pelo lançamento de Star Wars no país no ano seguinte. Obras como Kamen Rider e Ultraman voltaram a ganhar atenção. O primeiro passo para reviver Kamen Rider ocorreu em outubro de 1978, quando o desenhista Goro Yamada (da Ishimori Pro) iniciou uma serialização em mangá na revista Terebi Land, revisitando a trajetória dos heróis mascarados. Paralelamente, a Toei Company planejava um grande blockbuster para exibir o potencial dos efeitos especiais japoneses. Uma das propostas era uma releitura do primeiro Kamen Rider, mas o projeto evoluiu para o filme Uchuu Kara No Messeji (宇宙からのメッセージ, 1978). A ideia original, porém, acabou publicada pelo próprio Ishinomori no E-konte manga Kamen Rider (絵コンテ漫画 仮面ライダー), obra que mescla storyboard, mangá e roteiro de cinema.

Na televisão, o retorno ocorreu em outubro de 1979 com a série intitulada apenas Kamen Rider (仮面ライダー), também referida como Atarashii Kamen Rider ou Shin Kamen Rider. O protagonista era Hiroshi Tsukuba, mais tarde chamado de Skyrider por suas habilidades de voo, inspiradas pelo sucesso do filme Superman (1978). A série retomava elementos da produção original de 1971, apresentando a organização Neo-Shocker, vilões semelhantes, um mentor nos moldes de Tobei Tachibana e a proposta de independência em relação às séries anteriores. No entanto, a baixa audiência inicial fez a Toei reformular o enredo: Skyrider passou a ser integrado à cronologia, recebendo a ajuda dos Riders anteriores, o que aumentou os índices de popularidade.

Em seguida, veio Kamen Rider Super-1 (仮面ライダースーパー1, 1980), mas a franquia entrou novamente em hiato televisivo devido à queda de audiência, restando apenas um especial em 1984. Em 1986, Ishinomori elaborou vários esboços sob o título Kimiwa Kamen Raider o Mitaka? (キミは仮面ライダーをみたか?, Você já viu o Kamen Rider?), além do conceito de Kamen Rider 0, com design mais orgânico de homem-gafanhoto, ideia reaproveitada no mangá de Kamen Rider Black (仮面ライダーBlack). O projeto evoluiu, em parceria com Katsushi Murakami (Bandai), para Kamen Rider Black (仮面ライダーBLACK, 1987), um reboot que modernizava a franquia. A série contava a história de Kotaro Minami (Issamu no Brasil), sequestrado pelo culto Gorgom junto ao irmão de criação Nobuhiko Akizuki e remodelado como guerreiro mutante. O sucesso trouxe uma continuação direta, Kamen Rider Black RX (仮面ライダーBLACK RX, 1988).

Com o fim de Black RX, nasceu o projeto de Shin Kamen Rider: Josho (シン・仮面ライダー), que começou como uma série chamada Kamen Rider Gaia, mas foi adaptada para um filme devido a limitações orçamentárias chamado Shin Kamen Rider: Prologue (真・仮面ライダー 序章). Originalmente planejado para 1991, em comemoração aos 20 anos da franquia, acabou adiado para 1992 por interferência da Bandai, que não queria concorrência com os 25 anos de Ultraman. Lançado diretamente em vídeo (V-Cinema), o filme foi descrito por Ishinomori como uma “raiz” da árvore que era Kamen Rider. Apesar disso, a recepção negativa impediu a produção de continuações.

Em 2005, pelo aniversário de 35 anos da franquia, foi lançado Kamen Rider THE FIRST (仮面ライダー THE FIRST, 2005), dirigido por Takao Nagaishi e roteirizado por Toshiki Inoue. A produção revisitou a história de Ichigo e Nigo, com abordagem mais sóbria e moderna. Ganhou uma sequência em 2007, Kamen Rider THE NEXT (仮面ライダー THE NEXT, 2007), que incorporava elementos de terror inspirados na onda J-Horror (um gênero de horror derivado da cultura popular do Japão, conhecido por seu estilo distinto em relação ao terror ocidental), mas não foi bem recebida e não seguiram como novas produções neste “universo”.

A releitura mais recente aconteceu em 2023, com Shin Kamen Rider (シン・仮面ライダー), dirigido por Hideaki Anno, em comemoração aos 50 anos da franquia. O filme resgata a história original, mas com forte carga de fanservice e forte experimentalismo autoral. Apesar de se tornar a maior bilheteria da história da franquia, dividiu opiniões: alguns o criticaram pela narrativa apressada, enquanto outros valorizaram as inúmeras referências a obras de Ishinomori, o estilo visual inspirado nos anos 1970 e até mesmo o uso de locações e trilhas sonoras originais da série de 1971.

Manter vivo um personagem tão icônico no imaginário popular é um desafio constante. Releituras de Kamen Rider precisam equilibrar reverência às origens com a necessidade de dialogar com novos públicos. O dilema central sempre será este: como recontar a mesma história de formas diferentes, sem perder sua essência atemporal.

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