O episódio 15 de Kamen Rider Zeztz marca um ponto de virada silencioso, porém decisivo, na narrativa da série. Sem recorrer a grandes novas reviravoltas explosivas, o capítulo aprofunda conflitos morais, redefine antagonismos e deixa claro que o verdadeiro campo de batalha não está apenas entre agentes e Nightmares, mas dentro das próprias estruturas que dizem proteger o mundo.
A trama se inicia no centro de comando, dentro do Mundo dos Sonhos, onde Baku finalmente confronta Zero sobre a real natureza do CODE. A resposta inicial sobre “paz mundial” soa quase automática, como um slogan vazio, o mais puro clichê. Conforme a conversa avança, Zero revela que as missões da organização existem em uma zona cinzenta, onde moralidade e sacrifício raramente são simples. Para o CODE, a causa sempre vem antes do indivíduo.


Essa revelação atinge Baku em cheio. Ao questionar quem é Nox, ele descobre que o inimigo que enfrenta é, na verdade, Odaka Kensei, o antigo Agente Número 4, descartado pela própria organização quando deixou de ser útil. Zero não esconde seu pragmatismo: agentes são números substituíveis. Ainda assim, Baku aceita a missão. Seu sonho de infância era ser um agente secreto infalível, mas agora entende que, no CODE, heróis não são lembrados, mas apenas ferramentas.
Antes de partir, Baku recupera todos os seus Capsems e recebe um novo: o Booster, capaz de amplificar o poder do Zeztz e estabilizar a forma Plasma. É um avanço técnico importante, mas também simbólico. Quanto mais poder Baku recebe, mais pesado se torna o fardo das decisões que precisa tomar. O comentário aparentemente casual de Zero sobre Minami, sua irmã, reforça o contraste entre frieza institucional e vínculos humanos, algo que o CODE claramente não valoriza.


Enquanto isso, o episódio mergulha no passado de Nox. Preso em uma lembrança fragmentada, vemos o momento em que o então Agente Número 4 é abandonado durante uma missão. Seu Driver falha, o pedido de apoio é negado e Zero simplesmente ordena que ele conclua a operação sozinho. A mensagem é clara: se sobreviver, ótimo; se morrer, problema resolvido. Isso remete à velha cápsula de cianeto usada por agentes revelados e capturados no mundo real. Esse trauma se cristaliza no pesadelo que mantém Kensei aprisionado entre sonho e realidade.
É nesse espaço que Nem surge, não como combatente, mas como presença empática. Sua conversa com Nox é sutil e desconfortável, tocando diretamente na ferida. O medo não é apenas da escuridão, mas da organização que o traiu. Nem lembra que ela só pode existir nos sonhos, Nox, não. Essa distinção é crucial e abre uma fresta para que ele confronte sua própria condição. Ao mesmo tempo, surge uma grande desconfiança sobre o quanto ela realmente sabe sobre o que ocorre, e se é apenas uma ferramenta usada por Nox, ou talvez algo além disso.


A entrada de Baku na porta da mente de Nox transforma o conflito. Em vez de enxergar Odaka como alvo, ele percebe que o verdadeiro inimigo é um Nightmare, a manifestação do trauma que o CODE ajudou a criar. Quando Baku afirma que “odeia o pesadelo, mas o sonhador não fez nada de errado”, a série explicita sua tese central. Monstros não surgem do nada, eles são produzidos, resta saber por quem e por quê.
O confronto é visualmente forte. A estreia do Plasma Booster traz uma sensação de velocidade quase impossível de acompanhar, como se nem o próprio Mundo dos Sonhos conseguisse reagir a tempo. Ainda assim, o episódio evita transformar isso em triunfo absoluto. Baku é forçado a sair da transformação, se coloca em risco e protege Nox, mesmo sem ser solicitado. Sua escolha não é estratégica, mas ética.


No mundo real, Fujimi e Nasuka seguem os rastros do fenômeno luminoso até um acampamento isolado. A esperança de reencontrar Odaka dura pouco. Ele desperta, aponta uma arma para Fujimi e foge usando um Capsem de apagamento, deixando para trás mais perguntas do que respostas. O reencontro, breve e tenso, reforça o quanto a distância entre eles não é apenas física, mas emocional.
De volta ao Mundo dos Sonhos, Baku derrota o Nightmare com o Booster Banish, libertando Kensei. Antes de partir, Nox deixa cair o anel que simbolizava sua prisão ao pesadelo, um gesto simples, mas carregado de significado. Ele não se redime, não pede desculpas e não se torna aliado. Apenas segue adiante, agora acordado.
O episódio se encerra com duas cenas-chave. A primeira é íntima. Baku acorda e finalmente encara Minami, que já conhece sua vida dupla. Não há gritos ou drama exagerado, apenas preocupação genuína, o que funciona muito bem. A série acerta ao tratar essa revelação com maturidade, fortalecendo a dinâmica entre os irmãos em vez de explorá-la como obstáculo artificial.


A segunda cena apresenta uma mulher, figura enigmática que acolhe Nox em um jardim fechado. Sua fala sobre sonhos, borboletas e liberdade ecoa o famoso paradoxo de Zhuangzi, sugerindo que a fronteira entre sonho e realidade pode ser ilusória e manipulável, apesar de as borboletas ainda me fazem lembrar o vilão da Lady Bug. Ao declarar seu desejo de um mundo livre do CODE, ela se estabelece como algo ainda mais perigoso do que um simples antagonista: uma ideóloga com visão própria.
O episódio 15 não busca impacto imediato, mas consolidação temática. Ele encerra um longo arco e prepara o terreno para conflitos mais diretos, agora com as peças claramente posicionadas. Zero, a mulher misteriosa, Baku e Nox representam visões distintas sobre ordem, sacrifício e liberdade, e a série começa a desenhar esse embate como um verdadeiro jogo de xadrez.
Kamen Rider Zeztz continua avançando com calma, mas com segurança. Cada episódio adiciona camadas que tornam o conjunto mais denso e recompensador. Ao final, fica claro: o maior perigo não são os pesadelos, e sim as organizações que decidem quem merece acordar deles.
Nota: 9/10

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