Há batalhas que travamos com o mundo e outras que travamos dentro de nós.
Space Gazers é um episódio que prepara o terreno para o clímax de Ultraman Omega, e o faz com segurança em alguns pontos, enquanto repete escolhas que já fragilizaram capítulos anteriores. O vigésimo terceiro episódio apresenta duas frentes narrativas distintas: de um lado, a escalada militar humana contra os kaijus; do outro, a crise de identidade de Sorato, agora mais profunda, mais conflituosa e mais isolada.
Logo de início, a série reforça o peso crescente da guerra contra as criaturas, destacando o desenvolvimento de uma nova arma criada por Sayuki. A construção desse confronto é eficaz: elementos vistos em episódios passados retornam e se conectam, como o meteorito, que volta à narrativa não apenas como objeto, mas como pivô conceitual dessa escalada. Esse movimento dá consistência ao arco, transmite sensação de serialização e confirma que as peças deixadas para trás não estavam soltas; apenas aguardavam o momento certo de retornar.


Enquanto isso, no coração da trama, Sorato trava uma disputa silenciosa contra si mesmo. Seu “eu” anterior, mais rígido e distante, moldado por um propósito de observação, tenta puxá-lo de volta para um caminho incapaz de conciliar humanidade e dever. O Sorato atual, ainda disposto a defender a Terra, parece lutar contra uma memória que insiste em lembrá-lo de quem ele era, não necessariamente de quem ele quer ser. Essa dualidade oferece camadas interessantes, mas vem acompanhada de uma escolha narrativa que se repete: Sorato é novamente afastado do grupo para que seu arco aconteça, e o personagem começa, mais uma vez, a orbitar a história em vez de habitá-la. Esse distanciamento não invalida o drama, mas limita seu impacto emocional.
Paralelamente à crise interna, vemos Kosei agindo sozinho, e é justamente nessa ausência que nasce a tensão. Sua postura mais ativa revela não apenas liderança, mas também vulnerabilidade, e o contraste entre suas escolhas e o silêncio de Sorato intensifica a sensação de que a temporada marcha para um confronto inevitável, não apenas entre forças externas e Ultras, mas entre dois lados de um mesmo ser.


À medida que o episódio se aproxima do fim, há um reposicionamento do protagonista diante do próprio reflexo, o que sugere que o último obstáculo antes do desfecho não é uma entidade cósmica, e sim o próprio Omega. No todo, Space Gazers cumpre seu papel: prepara, conecta, tensiona e promete. Ainda tropeça ao afastar seu protagonista para que a trama avance ao redor dele, um vício narrativo que segue cobrando seu preço, mas consegue subir o tom, dar liga às conexões e deixar claro que as próximas batalhas não serão apenas físicas.
Um episódio introdutório, de promessa alta e tensão crescente, que enxerga o final no horizonte, mas segue pagando o preço de manter o herói à margem.
Nota: 8/10

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