O mundo católico amanheceu em luto nesta segunda-feira, 21 de abril de 2025. O Papa Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, faleceu às 2h35 da manhã (horário de Brasília) na Casa Santa Marta, sua residência no Vaticano, aos 88 anos, o primeiro pontífice latino-americano da história deixa um legado de humildade, diálogo inter-religioso e preocupação com os mais vulneráveis.
Em homenagem a esta figura que promoveu o diálogo entre culturas e religiões, o Tokusatsu.com.br traz este artigo especial, contanto um pouco sobre as curiosas conexões entre as séries de super-heróis japonesas e o catolicismo.


O tema do cristianismo na história do Japão voltou com força à cultura pop com a série Xógum — A Gloriosa Saga do Japão (Shogun), de James Clavell, que aborda o cristianismo no contexto da ascensão de Tokugawa Ieyasu. A história se passa no Japão feudal, no início do século XVII, um período marcado por tensões entre a religião e as políticas de Tokugawa, incluindo a proibição do cristianismo.
Introduzido por missionários jesuítas em 1549, o catolicismo passou de uma fase de crescimento para severa perseguição no século XVII. Sobreviveu de forma clandestina entre os “Kakure Kirishitan” (Cristãos Escondidos) e hoje representa uma minoria (0,3% da população japonesa), com destaque para as comunidades de Tóquio e Nagasaki. A visita do Papa Francisco ao Japão em 2019 reforçou os laços com a Igreja local.


O criador da franquia Ultraman e pioneiro dos efeitos especiais, Eiji Tsuburaya era católico, influenciado por sua esposa, assim como o roteirista Shozo Uehara, que incorporou discretamente simbolismos cristãos em suas obras, como na série Ultraseven (ウルトラセブン, 1967), onde o herói é crucificado em uma cena que remete tanto a Cristo quanto aos mártires cristãos japoneses e em Ultraman Ace (ウルトラマンA, 1972) sendo salvo por seus irmãos crucificados.
Uehara, quando migrou para trabalhar na Toei, levou diversos desses elementos já utilizados na Tsuburaya, onde frequentemente era possível ver heróis presos em cruzes. Outros roteiristas também incorporaram elementos ligados ao catolicismo na produtora. Em O Fantástico Jaspion (巨獣特捜ジャスピオン, 1985), roteirizado por Uehara, o profeta Edin carregava parte da “Bíblia Galáctica”, com um visual que remetia a Moisés e às tábuas dos Dez Mandamentos.



Não apenas visualmente, mas também dentro das histórias contadas em algumas séries também refletem ensinamentos cristãos. Em Lion Man (風雲ライオン丸, 1983), em que o herói rejeita o suicídio por vingança e defende o valor da vida, contrastando com a tradição samurai — uma visão próxima à ética cristã. E em Jiraya, O Incrível Ninja (世界忍者戦ジライヤ, 1988), o personagem Barão Owl é um ninja britânico, descendente dos cruzados, com aparência de cavaleiro e montado em um cavalo branco. Movido por ideais cristãos e filantrópicos, acredita no amor universal e deseja acabar com a miséria e a fome. Ele queria usar Pako para construir um mundo melhor.
Embora o Papa e o Vaticano raramente sejam mencionados diretamente nas séries, cruzes, sacrifícios e valores morais refletem o cristianismo. Esses elementos demonstram como o tokusatsu assimila influências de diferentes tradições religiosas, transformando-as em símbolos culturais.
Mesmo sem referências diretas, o catolicismo está presente no tokusatsu de forma simbólica e estética. A influência de figuras como Tsuburaya e Uehara, e o legado de diálogo promovido pelo Papa Francisco mostram como culturas distintas podem se encontrar até mesmo em produções de super-heróis. O falecimento do Papa convida à reflexão sobre a importância do respeito e da convivência entre diferentes tradições religiosas e culturais.