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Do Japão feudal para as telas: uma viagem pelo cinema chanbara

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O cinema chegou ao Japão no final do século XIX e logo incorporou elementos da cultura local, como o teatro Kabuki , teatro e o teatro Bunraku. Na era do cinema mudo, os katsudo benshi (narradores) eram figuras centrais nas exibições. Com o avanço do cinema sonoro nos anos 1930, o país viveu um auge criativo com diretores como Kenji Mizoguchi, Yasujiro Ozu e Akira Kurosawa, que combinaram a tradição japonesa com inovação visual.

Muito antes de Eiji Tsuburaya revolucionar os efeitos especiais com filmes como Godzilla, criando as bases do que viria a ser o gênero tokusatsu (特撮), o cinema japonês foi se consolidando com o gênero jidaigeki (時代劇), cujo significado literal é “drama de época”.

Por serem ambientados antes da era Meiji (1868–1912), os jidaigeki frequentemente apresentam samurais como protagonistas, o que originou um subgênero conhecido como chanbara (チャンバラ), derivado da onomatopeia chan-chan, bara-bara, que imita o som de espadas em combate.

O chanbara se popularizou no Japão e, no pós-guerra (Segunda Guerra Mundial, 1939-1945), tornou-se uma das respostas culturais à influência dos Estados Unidos. Um paralelo interessante são os filmes americanos de faroeste (western) e seus derivados como o western spaghetti (produzido principalmente na Itália), que, apesar das diferenças culturais, compartilham estruturas narrativas semelhantes. O chanbara teve seu ponto auto na época de ouro do cinema japonês (década de 1950) e ganhou notoriedade internacional em 1954 com o sucesso de Os Sete Samurais (七人の侍 ), de Akira Kurosawa, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e indicado a outras categorias.

Desde o século XIX, a figura do samurai permeia o imaginário japonês. Guerreiros lendários já eram retratados em peças teatrais e, com o tempo, passaram a ser representados no cinema, nos mangás, nos livros e na televisão. O samurai se tornou um símbolo da cultura japonesa. Entre os responsáveis por consolidar esse imaginário estão Shozo Makino, considerado o pai do cinema japonês, e Akira Kurosawa, que levou o gênero ao reconhecimento internacional.

Shozo Makino (1878–1929), nascido em Kyoto, foi um dos pioneiros do cinema no Japão. Descobriu o ator Matsunosuke Onoe, a primeira grande estrela do cinema japonês, dirigiu dezenas de filmes e fundou estúdios como a Mikado Company e a Makino Film Productions. Seu legado foi continuado por seus filhos e netos, que também seguiram carreira na indústria.

Akira Kurosawa (1910–1998) dirigiu 30 filmes em seis décadas, tornando-se um dos cineastas mais influentes da história. Estreou como diretor em plena Segunda Guerra com Sanshiro Sugata (1943). Ganhou projeção internacional com Rashomon (羅生門, 1950), vencedor do Leão de Ouro em Veneza. Entre seus clássicos estão Ikiru (生きる, 1952), Trono Manchado de Sangue (蜘蛛巣城, 1957), Yojimbo (用心棒, 1961), Kagemusha (1影武者, 1980) e Ran (乱, 1985). Em 1990, recebeu o Oscar Honorário pelo conjunto da obra.

O site Tokusatsu.com.br sempre reforça o uso correto dos termos. Uma obra pode conter efeitos especiais (tokusatsu), mas isso não a define automaticamente como pertencente ao gênero tokusatsu. Da mesma forma, nem todo jidaigeki é um chanbara, e alguns podem ainda ser híbridos com outros gêneros, como terror ou ficção científica.

Exemplos disso são Kaiketsu Lion-Maru (快傑ライオン丸 ) e Fuun Lion-Maru (風雲ライオン丸) ambas conhecidas no Brasil como Lio Man, produzidas pela P-Production entre 1972 e 1973. Embora sejam do gênero tokusatsu, também incorporam elementos de ficção científica, samurais e lutas de espada, enquadrando-se como jidaigeki e chanbara. Outra série híbrida é Yagyu Abaretabi (柳生あばれ旅), da Toei e TV Asahi, estrelada por Sonny Chiba que conta uma versão da história de um dos samurais mais famosos e romantizados da era feudal do Japão. Mesmo sendo um jidaigeki, incorpora elementos de tokusatsu com cenas de ação coreografadas pela Japan Action Club (JAC).

O chanbara também teve forte influência sobre o cinema ocidental. Akira Kurosawa e Masaki Kobayashi se inspiraram em John Ford. Filmes como Yojimbo influenciaram Por um Punhado de Dólares (Per un pugno di dollari, 1964), de Sergio Leone. Os Sete Samurais inspirou Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven, 1960) de John Sturges. Já A Fortaleza Escondida (隠し砦の三悪人 , 1958) de Kurosawa influenciou Star Wars de George Lucas, e Lady Snowblood (修羅雪姫, 1973) de Toshiya Fujita serviu de base para Kill Bill, de Quentin Tarantino.

O gênero chanbara é fundamental para o cinema japonês e voltou a ganhar destaque nos anos 2000, após um declínio nas décadas de 1980 e 1990. Remakes e novos filmes passaram a ser bem recebidos por crítica e público, incorporando tendências e linguagens contemporâneas. Um exemplo é Samurai Neko (画像, 2014), que narra a história de um samurai contratado para matar um gato, mas que acaba se afeiçoando ao animal. Além disso, adaptações de mangás famosos, como a série Rurouni Kenshin (るろうに剣心), também ajudaram a revitalizar o gênero.

O cinema chanbara é uma excelente porta de entrada para quem deseja mergulhar na história e cultura do Japão.

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