O sexto episódio de Kamen Rider Zeztz adentra territórios sombrios da mente humana, onde o sonho se mistura com culpa e a linha entre realidade e ilusão desaparece por completo. Baku desperta em uma prisão ao lado de Nem e de um casal que levanta dúvidas sobre sua existência: Masumi Bijogi, empresário de Nem, e sua ex-esposa, Reiko. O que começa como uma missão de fuga logo se transforma em uma descida angustiante pelo inconsciente de uma pessoa atormentada, possivelmente Bijogi (se não ocorrer nenhuma reviravolta no próximo episódio).
A prisão não é apenas um cenário físico, mas uma mente fragmentada. Paredes pulsantes, serras escondidas e corredores infinitos representam o aprisionamento emocional de Bijogi, atormentado por um acidente que deixou Nem em coma quatro anos antes, enquanto tenta protegê-la e, ironicamente, parece que da própria culpa. O ambiente funciona como metáfora de seu trauma e da tentativa desesperada de escondê-lo. Quando Baku percebe que o “pesadelo” é a própria prisão, a narrativa assume tons de horror psicológico, revelando que o verdadeiro inimigo é a mente humana tentando se proteger da verdade.


A revelação de que Nox também possui o poder de manipular sonhos amplia a dimensão simbólica do episódio. Ele funciona como o espelho distorcido de Zeztz, o arquiteto do inconsciente, que controla o caos enquanto Baku tenta impor ordem e consciência. Essa rivalidade lembra clássicos da franquia, como a relação entre Black e Shadow Moon: dois seres conectados, mas com visões de mundo opostas. A própria transformação de Zeztz em sua nova forma reforça essa dualidade. O braço mecânico e a estética industrial remetem a Riderman, de Kamen Rider V3, o herói mutilado que luta com a própria humanidade perdida. Aqui, a máquina simboliza reconstrução e tentativa de retomar o controle da psique.
O episódio também evoca influências de Kuuga e Agito, na forma como o poder surge da dor, e de W e Build, na maneira como o herói enfrenta monstros nascidos do medo humano. Cada elemento visual e cada diálogo parecem carregados de significado. O braço mecânico de Zeztz não é apenas uma arma, mas a tentativa de recompor a mente. A situação de Nem, por sua vez, simboliza o desejo de permanecer em um sonho onde a dor não precisa ser enfrentada.


A atmosfera é sufocante. O som metálico das paredes e a iluminação intermitente transformam o espaço em um organismo vivo, como se a culpa tivesse forma física. Quando Zeztz decide destruir o chão em vez de atacar o inimigo, o pesadelo se manifesta plenamente: a prisão se ergue como um monstro colossal, cheio de olhos e membros, uma representação grotesca do trauma reprimido. A sequência remete a A Origem (Inception, 2010), misturando horror surrealista com tokusatsu, transcendendo o gênero convencional.
No mundo real, Fujimi e Nasuka descobrem o santuário que Bijogi construiu para Nem, um altar de culpa e obsessão. Essa revelação recontextualiza tudo o que vimos: o sonho não é apenas um refúgio, mas uma prisão alimentada pelo amor distorcido de um homem que não consegue deixar o passado morrer. Quando a frase “o pesadelo era o mundo inteiro” encerra o episódio, fica claro que a série trata de algo maior do que batalhas físicas, é sobre encarar o horror de despertar para a própria consciência.


O episódio ainda mantém o público preso na tensão: a primeira impressão é “Nem está morta”, mas cenas do próximo episódio prometem aliviar parcialmente o suspense e manter o interesse em descobrir o desfecho da trama. E se o pesadelo for de Nem e não de Bijogi, quais serão as consequências a partir do próximo episódio? Realmente, um episódio promissor e interessante, e ainda estamos apenas no começo da série.
Com sua densidade simbólica, tom de suspense investigativo e elementos de thriller psicológico, Kamen Rider Zeztz demonstra que a Toei está elevando a franquia a um nível que atrai espectadores de todas as idades, independentemente do interesse prévio por tokusatsu. Visualmente impressionante e emocionalmente devastador, o episódio mostra que a maior batalha de um herói não é contra monstros, mas contra a mente que os cria.


Nota: As referências à cultura pop e cinema que me vieram à minha mente incluem A Cela (The Cell, 2000), onde uma terapeuta entra na mente de um serial killer em coma para localizar sua última vítima, enfrentando os próprios mecanismos do inconsciente do criminoso. A escolha do nome “cela” remete ao conceito de aprisionamento mental e emocional, a restrição da liberdade individual como consequência de um trauma ou ato, seja consciente ou não.
Nota: 10/10
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