No episódio 14 de Kamen Rider Zeztz, a série mergulha de vez na mente de Baku e transforma o passado do protagonista na peça central da narrativa. O capítulo abandona a estrutura tradicional de confronto episódico para apostar em tensão psicológica, revelações graduais e um avanço significativo rumo a novos conflitos, além do desenvolvimento de personagens e arcos.
A história começa com Baku perdido entre camadas do mundo dos sonhos, preso em um espaço instável que já não pertence totalmente a ninguém. É nesse cenário que surge Nem, funcionando tanto como guia quanto como âncora emocional, enquanto Zero aparece à distância para deixar clara a nova missão: eliminar o inimigo. A ordem é direta e fria, levantando imediatamente o conflito moral que passa a mover o episódio, uma situação comum em obras que têm agentes secretos como elemento central, mesmo que aqui não seja explorada de forma explícita.


A instabilidade do sonho leva Baku a reviver o primeiro grande trauma de sua vida. A lembrança do dia em que foi atingido por um raio surge como a origem de seus pesadelos, mas também como algo que sua mente tentou apagar. A narrativa conduz o espectador por memórias fragmentadas, acompanhando o protagonista até uma antiga escola de reforço, onde crianças consideradas “especiais” eram submetidas a métodos questionáveis. O impacto maior vem com a revelação de que o professor daquela turma era Odaka Kensei, hoje conhecido como Nox.
A relação entre Baku e Nox ganha uma nova camada. O antagonista deixa de ser apenas uma ameaça abstrata e passa a representar um elo direto com o passado apagado do herói. A ideia de que memórias foram removidas propositalmente reforça o tema central do episódio: até que ponto apagar a dor é uma forma de proteção ou de controle.


Enquanto isso, no mundo real, a tensão cresce dentro da própria organização. Minami confronta Zero ao perceber que o irmão está sendo empurrado para uma missão de assassinato. O embate entre os dois expõe o lado mais ambíguo da série. Zero não se vê como vilão, mas como alguém disposto a tomar decisões complexas pelo bem maior. Já Minami funciona como a voz moral, levantando dúvidas sobre decisões, missões e, de certa forma, tudo o que envolve a C.O.D.E..
O clímax do episódio acontece quando Baku decide encarar seu próprio pesadelo. Em vez de rejeitar a origem sombria de seu poder, ele a aceita. Ao transformar o trauma do raio em força, nasce uma nova forma, um upgrade que não surge da esperança, mas da confrontação direta com o medo. Esse momento solidifica a revelação feita por Nox: as Capsens utilizam o poder dos pesadelos como fonte. A luta contra Nox não é apenas física, simbolizando dois caminhos opostos diante da dor: fugir dela ou encará-la.


Mesmo derrotado momentaneamente, Nox não entrega todas as respostas. Suas falas sobre uma “escuridão apagada” e sobre a organização C.O.D.E. ampliam o mistério e indicam que o verdadeiro conflito da série ainda está longe de ser revelado. O episódio encerra deixando claro que o inimigo pode não ser um indivíduo específico, mas todo um sistema construído sobre manipulação, experimentos e silêncio.
O ritmo é mais contido, porém denso. A direção aposta em atmosferas sombrias, silêncios prolongados e transições oníricas que reforçam a sensação de desconforto. A ação aparece no momento certo, mas o foco está claramente no desenvolvimento psicológico e no avanço da trama maior. Talvez, em muito tempo, eu não me sentisse assistindo a uma série de Kamen Rider, mas sim a uma produção que vai muito além de um herói se transformando para salvar o dia.


O episódio 14 se destaca por consolidar Kamen Rider Zeztz como uma série que ultrapassa o simples confronto entre herói e vilão. Aqui, o verdadeiro embate acontece dentro da mente, nas memórias apagadas e nas escolhas difíceis que moldam quem Baku é e quem ele pode se tornar.
Quando o episódio terminou, eu olhei para o relógio para ter certeza de que haviam se passado apenas 30 minutos. Foi uma experiência extremamente interessante.
Nota: 10/10

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