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O nascimento dos vilões de ‘Super Sentai’

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O ano é 1983. A partir daquela data, os vilões dos Super Sentai começaram a se tornar personagens mais aprofundados. Claro que os vilões já estavam lá desde Himitsu Sentai Gorenger (秘密戦隊ゴレンジャー, 1975), o primeiro Sentai, que ainda não era Super. Porém, em geral, eles eram malvados-malvados, com risadas sinistras e queriam dominar o mundo por serem maus. E só.

Com Kagaku Sentai Dynaman (科学戦隊ダイナマン, 1983), essa história começou a mudar. O responsável por isso foi o Príncipe Megido, que cai em desgraça e trama contra seu próprio pai, o Imperador Aton, do Clã Imperial das Pessoas de Cauda Jashinka (Yūbijin Ichizoku Jashinka Teiko-ku). Pela primeira vez em Sentai, um vilão tinha motivações compreensíveis para agir e não apenas pura maldade ou escalar no comando. Megido mostrou o que uma pessoa com o orgulho ferido é capaz de fazer, sem falar no aparente affair entre ele e a Princesa Chimera, sua própria irmã.

Em 1984, em Choudenshi Bioman (超電子バイオマン), a segunda metade da série trouxe um excelente desenvolvimento para o Doutor Man, líder do Novo Império Gear (Shinteikoku Gear). Em um certo momento, o conflito entre o homem e a máquina quase fez com que o Doutor Man optasse pela vida de ser humano. Entretanto, seu caminho pela perfeição das máquinas se aprofunda. Ainda assim, a sua consciência como ser humano o faz criar uma réplica de seu filho, como se fosse um príncipe do Império. Nos capítulos finais da série, não há como o espectador não se compadecer do vilão.

Em Dengeki Sentai Changeman (電撃戦隊チェンジマン, 1985), o drama dos vilões foi aprofundado, ou melhor, generalizado. Buba, Shima e Ahames, que no passado sofreram com o avanço do domínio da Grande Liga Estelar Gozma (Daiseidan Gozma), foram obrigados a servir ao Rei Bazu. Todos sonham em um dia reconquistar o que lhes foi tirado. No final, cada um deles vai traindo Gozma. Com Gata escolhendo salvar a família, o clássico episódio da morte de Buba para salvar a vida de Shima e Ahames enlouquecendo clamando por ter sua terra-natal.

Mas é com Choushinsei Flashman (超新星フラッシュマン, 1986), que o drama toma conta geral dos Sentai. Não só pela história dos heróis órfãos, raptados na Terra por caçadores espaciais e criados no planeta Flash, mas também pelas revelações da segunda metade da série sobre o Cruzador Imperial Mess (Kaizō Jikken Teikoku Mess). As mutações sintetizadas no comando do Império do Monarca La Deus, consideradas meros monstros espaciais, revelam a mesma vontade de viver que a dos seres humanos. Vale destacar a grande atuação de Koji Shimizu como Doutor Keflen e as vidas que destruiu com suas mutações sintetizadas, inclusive sua própria.

No ano seguinte, o drama dos vilões do Império Subterrâneo Tube (Chitei Teikoku Chūbu) apresentado em Hikari Sentai Maskman (光戦隊マスクマン, 1987) não tem a mesma força das séries anteriores. Fora isso, a dublagem brasileira fez questão de estragar a revelação final da série chamando o Príncipe Igam de “ela” – com isso já dá para saber qual era a revelação.

O melhor ainda estava por vir. O drama entre heróis e vilões é levado ao ponto máximo com Choju Sentai Liveman (超獣戦隊ライブマン, 1988). A Armada do Exército Cerebral Volt (Busō Zunō Gun Volt), comandada pelo Grande Professor Bias, quer eliminar os seres humanos inferiores e criar um mundo ideal de gênios superiores. Para isso, se aproveita da ganância de três estudantes geniais para fazê-los abandonar a Academia e se juntar a Volt. Dois colegas do herói Red Falcon são mortos e assim começa a história. A série é épica em retratar a sede pelo poder, em uma analogia do mundo corporativo cada vez mais desumano, a dúvida do caminho escolhido e o conflito interno, de heróis e vilões. Em Liveman não existe maldade, mas sim motivações opostas.

A série seguinte, Kousoku Sentai Turboranger (高速戦隊ターボレンジャ, 1989) enfrente a Tribo Bohma (Bōma Hyakuzoku) e prossegue com o conflito de escolhas entre heróis e vilões. A partir da segunda metade da série, começa a história de Yamimaru e Kirika. Excluída, traída e relegada, Kirika vê em Yamimaru o único a lhe estender a mão. Já para Yamimaru, Kirika é o que o mantém ligado ao sentimento humano que ele tenta relegar.

Chegamos à década de 1990 com Chikyu Sentai Fiveman (地球戦隊ファイブマン, 1990), em que o drama é quase todo dos heróis que perderam os pais. Porém, no final, quando a verdade sobre o Exército Imperial Prateado Zone (Ginteigun Zone), e a Imperatriz Galática Medo, é revelada, tudo pelo que os vilões lutavam começa a desmoronar. O Império em si se esfacela e os verdadeiros sentimentos dos vilões afloram. O fim de Fiveman marca o fim do trabalho de toda uma equipe de produção e criação da Toei que esteve à frente da franquia Super Sentai por mais de uma década.

Novas cabeças chegam para fazer a série seguinte, Chojin Sentai Jetman (鳥人戦隊ジェットマン, 1991), considerada por muitos o melhor Sentai já feito. Nela, o Grupo de Batalha Dimensional Vyram (Jigen Sendan Vyram) explora ao máximo o conflito de sentimentos entre heróis e vilões. Maria, uma das vilãs, é a noiva de Ryu Tendo, o Red Hawk, e foi considerada morta em um ataque de Vyram. Sem um líder, os vilões competem entre si para decidir quem comandará Vyram. Toran, que sofre ao ser ridicularizado pelos outros vilões, se vinga de todos ao se tornar o Imperador Toranza. A última cena, do último episódio, traz uma perda que marcou para sempre os Sentais.

O que foi construído em oito anos mudou para sempre os padrões de vilões de Sentai. Em algumas séries mais estereotipados, em outras mais realistas. Porém, os vilões maus que davam risada e só queriam conquistar o mundo acabaram. Muitos têm até motivações melhores para conquistar a Terra do que os heróis para defendê-la. Assim, vários desses vilões que amamos odiar se tornaram parte da história da cultura pop japonesa.

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