Artigos

‘Uchu Kara No Messeji’, o ‘Star Wars’ da Toei

O sucesso de Star Wars, em 1977, foi um fenômeno e gerou um boom de produções de ficção científica por todo o mundo. Todos queriam ter o seu “Star Wars”, e no Japão não foi diferente. A Toho lançou Wakusei Dai Senso em 1977, e a Toei não ficou de fora desta nova “febre” mundial.

Em 1975, o presidente da Toei na época, Shigeru Okada, assistiu ao filme Tubarão, de Steven Spielberg, e procurou o diretor de efeitos especiais, Nabuo Yajima, fundador da Tokusatsu Kenkyujo (empresa de efeitos especiais), dizendo que queria fazer um grande filme de efeitos especiais.

Na época, Yajima estava muito ocupado e não pôde focar nisto, e o projeto de um “Tubarão” da Toei seguiu com os produtores Toru Hirayama, Watanabe Ryonori (posteriormente também Yusuke Okada) da Divisão de Televisão da Toei e mais alguns nomes peso, como Shotaro Ishinomori, que definiu muito do plot e personagens. O projeto começou a ser chamado de DEVIL MANTA SPACE MONSTER, e teria um kaiju em forma de arraia invadindo o planeta Terra.

Em 1977, quando a produção foi oficialmente decidida, o presidente Okada instruiu a equipe a assistir Star Wars, que estava fazendo muito sucesso nos EUA e pelo mundo. A Toei enviou três pessoas: Nabuo Yajima, Hiro Matsuda e Kinji Fukasaku (este terceiro disse brincando que, na época, que foi “sequestrado” à força para ir ver Star Wars no Havaí). O resultado não poderia ser diferente: os três ficaram impressionados com o que viram.

Apesar de estar contada de forma bem resumida, a história base da criação de Uchu Kara no Messeji está aqui. A partir disto, a Toei anunciou a produção e iniciou as gravações. O custo de produção foi planejado para ser de 1 bilhão de ienes (cogita-se que foram gastos valores bem mais altos), sendo o filme japonês mais caro até aquele momento. Além da Toei, também fizeram parte da produção a Tohokushinsha, a TBS e a United Artists.

Para o elenco, trouxeram o ator americano Vic Morrow, que teve um alto cachê de 300 mil dólares. Morrow já era um ator famoso e faleceu de forma trágica em 1983, junto de dois atores mirins em um acidente durante as filmagens de Twlight Zone: The Movie. O elenco japonês trouxe muitos nomes conhecidos, como Sonny Chiba, que já era famoso por seus filmes de ação e que trouxe sua equipe da JAC (Japan Action Club) e também Machiko Soga (mundialmente conhecida como Rita Repulsa de Power Rangers) dublando a voz do robô Bebba 2.

Durante o lançamento, em abril de 1978, Shigeru Okada chegou a dizer em entrevistas sobre a influência de Star Wars, e Ishinomori dizia que haviam considerado abandonar Devil Manta e fazer do Kamen Rider uma história global. Apesar disto, foi criada uma Space Opera com forte influência em Nanso Satomi Hakkenden (uma novela épica japonesa que também influenciou outras obras no Japão).

O filme foi indicado ao Saturn Award de melhor filme estrangeiro de 1980, e a 20th Century Fox chegou a alegar que era um plágio de Star Wars. A United Arts só conseguiu lançar nos EUA quando a Fox se deu por satisfeita com as provas que indicavam não ser um plágio, mas sim apenas uma influência.

Apesar de um pequeno sucesso nos EUA, os críticos americanos disseram que era um “clone” japonês de Star Wars. Em março de 2020, foi listado como 44º no Ranking 50 of the 1970’s SF movies anunciado pela revista Rolling Stone.

O filme gerou uma série derivada ambientada no mesmo universo e que fez muito sucesso na França e américa Latina, intitulada Uchu Kara no Messeji: Ginga Taisen. A série é ambientada no mesmo universo, porém narrando acontecimentos 100 anos após sua versão cinematográfica.

O planejamento e produção se iniciou logo após o filme, com roteiro de Masaru Inoe que mistura elementos do próprio filme, mas mudando de uma ambientação baseada em samurais para um ambiente de séries de ninja, como Onmitsukenshi (1962) e Kamen no Ninja Akakage (1967). A produção foi feita pela Toei e pelo Uzumasa Studios, que trouxeram atores de drama de época como Ryo Nishida e Shinzo Hotta.

A Toei trouxe rostos conhecidos da JAC que também estiveram no filme, como Hiroyuki Sanada, que fez as vezes de “Luke Skywalker” em ambas as produções. A série também contou com robôs e com um personagem chamado Baru, uma espécie de símio, que também demonstrou o sucesso que a série de filmes O Planeta dos Macacos fez no Japão.

Para quem conhece séries do gênero tokusatsu, Uchu Kara no Messeji: Ginga Taisen traz todos os elementos básicos das produções da Toei: monstro da semana, transformações e muita ação. Além do sucesso no Japão, a série chegou à França em 1979 com o título de San Ku Kai. Foi difícil encontrar motivo específico para série e a nave utilizada pelos heróis ganharem este nome. Em minhas pesquisas, cheguei à conclusão de que foi devido a um estilo de caratê fundado na França em 1971, baseado no estilo Shukokai e que era popular por lá. Colaborou muito com o interesse dos franceses pelo gênero, visto o sucesso de Gavan, Bioman entre outras séries por lá.

Marcou época também na América Latina, sendo exibido em países como Chile e Peru, seguindo a versão francesa com o título Sankuokai, marcando a vida de muitas pessoas e criando uma legião de fãs que a cultuam até hoje, algo muito semelhante se comparado com o Brasil quando falamos de Jaspion ou Ultraman, uma febre que gerou discos, brinquedos e convenções.

Indicações de Tokucast após leitura deste texto:

Tokucast #128 – Uchu kara no messeji
Tokucast #129 – Uchu kara no messeji: Ginga


Compartilhe
Publicidade

Mais artigos

Episódios especiais do ‘Tokucast’ aprofundam a discussão sobre o que é tokusatsu

Tokusatsu Tyosenshu e a saudade de uma época

Super Action TKBR: A invasão ‘Kaiju’ que agitou a galera em São Paulo

SANA 2025 PARTE 1: O tokusatsu em ritmo de festa!

Shotaro Ishinomori – 87 ANOS

O western e o chapéu de cowboy no tokusatsu