Estudar a cultura pop é fascinante, especialmente quando encontramos conexões entre diferentes temas e momentos históricos. Com a conquista do primeiro Oscar por um filme brasileiro em 2025, com Ainda Estou Aqui, o prêmio tornou-se um assunto popular no Brasil. Aproveitando essa discussão, vamos explorar a relação entre o Oscar e o tokusatsu.


Efeitos Especiais
Efeitos especiais são técnicas utilizadas para criar ilusões visuais que não podem ser obtidas apenas com filmagens convencionais. Eles englobam efeitos práticos, como explosões reais, maquiagem e animatrônicos, e efeitos visuais (VFX), que envolvem computação gráfica (CGI) e manipulação digital.


Esses efeitos são essenciais para filmes de ficção científica, fantasia e ação, ajudando a contar histórias de forma mais imersiva. No cinema americano, por exemplo, a evolução dos efeitos especiais impulsionou a indústria cinematográfica, tornando-se um dos principais atrativos das grandes produções de Hollywood.
No Japão, não foi diferente. Inicialmente, a indústria cinematográfica japonesa usava o termo tokugi (特技), uma redução de tokushu gijutsu (特殊技術, técnica especial). Porém, após o lançamento de Godzilla, em 1954, o termo tokusatsu (特撮), que é uma redução de tokushu kouka satsuei (特殊効果撮影, filmagem com efeitos especiais), passou a ser utilizado.


O termo se popularizou como sinônimo de um gênero de produções, mas nunca perdeu seu significado original. Os filmes de kaiju são um exemplo de obras que transitam entre o sentido técnico do termo e o gênero cinematográfico ao qual pertencem.
O Oscar
O Oscar é a maior premiação do cinema, concedida anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Ele reconhece a excelência em diversas categorias, como Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Roteiro e Melhores Efeitos Visuais. Criado em 1929, o prêmio é um dos mais prestigiados da indústria cinematográfica mundial.


A categoria de Melhores Efeitos Visuais foi introduzida oficialmente em 1929 como “Melhor Engenharia de Efeitos“, mas só voltou em 1939 como um prêmio especial. Em 1940, passou a se chamar “Melhores Efeitos Especiais” e incluía também os efeitos sonoros. Em 1965, passou a ser concedido apenas a técnicos de efeitos especiais e, em 1966, foi renomeado para “Melhores Efeitos Visuais Especiais“. Entre 1973 e 1978, a categoria foi suspensa, sendo retomada posteriormente com o nome atual.
Tokusatsu no Oscar
O cinema japonês tem uma longa trajetória no Oscar. Sua presença remonta ao século XX, quando o país começou a desenvolver sua identidade cinematográfica. Os primeiros filmes japoneses eram mudos e frequentemente abordavam narrativas históricas, especialmente sobre ninjas e samurais.



O reconhecimento internacional veio com o Oscar Honorário concedido a Rashomon (Rashômon, 羅生門), de Akira Kurosawa, em 1952, seguido pelo prêmio de Melhor Filme Estrangeiro em 1976 para Dersu Uzala (デルス·ウザーラ), também dirigido por Kurosawa. Outros marcos importantes incluem Miyoshi Umeki, que se tornou a primeira atriz de ascendência asiática a vencer um Oscar por Adeus (Sayounara, さようなら), em 1957, e As Portas do Inferno (Jigokumon, 地獄門), premiado por seu design de figurino.



Em 2008, A Partida (Okuribito, おくりびと) levou o prêmio de Melhor Filme Internacional. Já em 2021, Drive My Car fez história ao ser indicado a quatro categorias, incluindo Melhor Filme, e venceu como Melhor Filme Internacional. Na categoria de animação, Hayao Miyazaki é um dos maiores destaques, tendo conquistado dois Oscars e um honorário. Seu primeiro prêmio veio em 2003 com A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi, 千と千尋の神隠し), tornando-se a primeira animação não falada em inglês a vencer nessa categoria. Em 2014, Miyazaki recebeu um Oscar Honorário pelo conjunto de sua obra e sua contribuição para o cinema. Em 2024, conquistou seu segundo Oscar de Melhor Animação com O Menino e a Garça (Kimitachi wa Dou Ikiru ka, 君たちはどう生きるか).


O grande marco para o tokusatsu no Oscar aconteceu em 2024, quando Godzilla: Minus One venceu na categoria de Melhores Efeitos Visuais (ou seja, tokusatsu), exatamente 70 anos após o lançamento do primeiro filme da franquia. Considerado um divisor de águas para o uso do termo tokusatsu, o filme original de 1954 também foi responsável por estabelecer a importância do diretor de efeitos especiais na indústria, especialmente através do trabalho de Eiji Tsuburaya. Além de revolucionar a forma como os efeitos eram criados, Tsuburaya ajudou a popularizar o tokusatsu como sinônimo de séries de super-heróis repletas de explosões e trajes de borracha, inserindo o termo diretamente em suas produções, como Ultraman, com o subtítulo de série de efeitos especiais de fantasia (空想特撮シリーズ) em 1966.
Indicações de Tokucast após leitura deste texto:
Tokucast #250 – O que é tokusatsu? Parte 1
Tokucast #251 – O que é tokusatsu? Parte 2
Tokucast #252 – O que é tokusatsu? Parte 3