O que contaremos aqui talvez não seja novidade para fãs mais assíduos de produções tokusatsu ou fãs nostálgicos que curtem conhecer cada vez mais sobre as séries que passaram por aqui. Então, vamos lá!
Hoje, contarei um pouco da história da Japan Action Club, ou apenas JAC, uma empresa de dublês de cenas de ação fundada por Sonny Chiba (um dos maiores atores de ação do Japão, conhecido em todo o mundo) e que tem sua história totalmente entrelaçada com produções tokusatsu. E vocês conhecem mais sobre ela do que imaginam.
A empresa tinha o intuito de treinar e capacitar dublês de ação em alto nível e de classe mundial. Isso ajudou na valorização da função do suit-actor, que são os dublês que atuam fazendo gestos e posições, interpretando os personagens com trajes de super-heróis ou super vilões; e do stuntman, os dublês de cenas perigosas, como explosões e saltos.
Chiba já era muito conhecido por filmes e séries de ação, e também já havia participado e estrelado em algumas séries tokusatsu, como Nana-iro Kamen (1959) e Ala no Shisha (1960). Também atuou em Key Hunter (1968), uma série policial que fez muito sucesso no Japão e que coincidentemente colaborou em despertar interesse em atuação de muitos jovens que acabariam se tornando futuros membros da JAC.
Nos primeiros anos de atividade, os trabalhos da JAC estavam sempre relacionados às produções estreladas pelo próprio Sonny Chiba. Os primeiros nomes da JAC foram Junji Yamaoka, Junichi Haruta, Ryojiro Nishimoto, Osamu Kaneda (atual presidente da JAE) e Kenji Ohba. Muitos deles atuaram como dublês, fizeram pontas, estrelaram ou dirigiram muitas produções, principalmente da Toei Company.
Para a TV, os primeiros trabalhos da JAC foram em Kamen Rider (1971), série que também contava com o irmão de Sonny Chiba, Jiro Yabuki, como o detetive Kazuya Taki; e Superhuman Barom 1 (1972). Neste começo de atividades, a JAC fazia as cenas de saltos e explosões. As demais cenas (especialmente das séries da franquia Kamen Rider, produzidas por Tohru Hirayama) eram feitas pelos dublês da Ohno Kenyuukai (que contarei mais em um futuro artigo).
Em 1973, após a Toei começar a produzir os filmes de Sonny Chiba, como Karate Kiba (Bodyguard Kiba), a JAC se tornou parte indispensável de todas as produções de ação da produtora. O primeiro trabalho da JAC realizando todas as cenas de dublês foi na série Robot Keiji K, também de 1973.
Diversos nomes da JAC, que também trabalhava a parte de intepretação com seus membros, foram se destacando em filmes de Sonny Chiba e em produções da Toei. Entre metade dos anos 70 e metade dos anos 80, podemos destacar alguns nomes que saíram de figurantes e dublês até se tornarem grandes astros de ação no Japão: Etsuko Shihomi (vários filmes, como Sister Of Street Fighter. Em tokusatsu, podemos vê-la em Kikaider 01 e JAKQ, por exemplo), Kenji Ohba (que participou de 2 sentais e foi o Gavan), Hikaru Kurosaki (várias participações, além de estrelar Jaspion), Hiroshi Watari (Sharivan, Spielvan, etc), Junichi Haruta (Macgaren em Jaspion e Goggle Black em Goggle V) e Hiroyuki Sanada, que podemos considerar o mais bem sucedido membro da JAC e que atualmente é um dos astros orientais mais famosos e requisitados de Hollywood.
Muitos rostos conhecidos dos brasileiros estiveram em várias produções além dos heróis e franquias popularizadas como tokusatsu. Um exemplo interessante é uma série de sucesso de Sonny Chiba chamada Kage no Gundan (1980), que conta aventuras de ninjas liderados por diversas gerações de Hattori Hanzo. A produção fez sucesso em outros países e tem como um de seus fãs mais famosos o diretor Quentin Tarantino, que trouxe Sonny Chiba e Kenji Ohba para o filme Killer Bill, onde praticamente repetiram os papéis que fizeram em uma das temporadas de Kage no Gundan.
A JAC deixou de ser apenas um clube de dublês e teve seu auge de popularidade no final dos anos 70 até metade dos anos 80, fornecendo astros para TV, cinema e até para a música (com diversos Idols). Chiba, Kurosaki, Sanada, entre outros, lançaram álbuns, singles e fizeram shows, além de estrelarem diversos filmes. Um caso curioso é que alguns dançarinos de Hikaru Kurosaki (que fizeram participação em Jaspion, inclusive) formaram a boy band JAC Brothers.
A JAC também participava de shows, como os famosos eventos do Korakuen Stadium, e também produziram peças de teatro. Inclusive, uma delas possui alguns vídeos no YouTube, com cenas de ação entre Kurosaki e Sanada e participações em programas de TV no Japão, provavelmente promovendo a peça.
Durante o final dos anos 80, muitos astros da JAC saíram da empresa, seja por idade, desejo de atuar em outras produções, segurança de trabalho e até mesmo salários. Em entrevista ao site da antiga revista Herói, por volta de 2001, Hikaru Kurosaki disse que decidiu se desligar do mundo artístico devido a desentendimentos com Sonny Chiba.
Durante aquele período, ele vinha sofrendo problemas financeiros e baixa popularidade, e acabou recusando um pedido de Sonny Chiba para fazer espetáculos num parque de diversões por falta de segurança no trabalho e também porque um de seus amigos, Masato Akada (que foi dublê de Black Mask em Maskman entre outras séries), havia se ferido gravemente numa filmagem exatamente por esta falta de segurança.
Outro relato sobre este período é Hiroyuki Sanada, publicado no portal Kobunsha na época do falecimento de Chiba (2021), de que no final dos anos 80 eles teriam brigado devido a dinheiro. Sanada era um dos nomes que mais vendia na JAC, seja com filmes, discos, comerciais, tv, etc, e recebia sempre o mesmo valor. Desde então, nunca mais se falaram. Inclusive Sonny Chiba, mesmo em eventos onde Sanada o cumprimentava, fingia não o ver.
A relação deles sempre foi muito próxima e praticamente familiar, tanto que Sanada sempre foi um dos, se não o principal astro, após Chiba. Seu nome verdadeiro é Hiroyuki Shimozawa. “Sanada” é uma junção de partes do nome artístico e verdadeiro de Sonny Chiba (Shinichi Chiba e Sadaho Maeda). Inclusive, Sonny Chiba pediu para ele deixar de usar quando Sanada saiu da JAC, o que não ocorreu.
O ator Hiroshi Watari chegou a contar, em visitas ao Brasil, que Sonny Chiba possuía uma casa extremamente luxuosa na época, o que deixava clara a diferença entre os ganhos do dono da empresa e os de seus contratados.
No início dos anos 90, Sonny Chiba vendeu a JAC para o Grupo Daishinto, que seguiu com trabalhos para filmes, dramas de TV e séries da Toei. Em 1996, os veteranos Osamu Kaneda e Ryojiro Nishimoto estabeleceram a JAC como Japan Action Club Co. Ltd de forma independente do que pertencia ao grupo Daishinto, como uma agência totalmente nova e se tornando JAE em 2004 (Japan Action Enteprise), que além de dublês de ação, também se torna uma agência de talentos e promoção de atores, atrizes, diretores, etc.
Até hoje, vemos trabalhos da JAE em produções tokusatsu e em diversas outras produções, mantendo vivo o legado de Sonny Chiba.
As imagens, vídeos, tudo foi retirado em pesquisas na internet. Os direitos são de seus respectivos donos.
As fontes de pesquisas foram encontradas em sites e livros sobre tokusatsu e a JAC.
Indicações de Tokucast após leitura deste texto:
Tokucast #80 – Sonny Chiba
https://www.tokusatsu.com.br/tokucast-80-sonny-chiba
Tokucast #85 – Kage no Gundan
https://www.tokusatsu.com.br/tokucast-85-kage-no-gundan
Tokucast #116 – Um pouco sobre a história da Japan Action Club
https://www.tokusatsu.com.br/tokucast-116-um-pouco-sobre-a-historia-da-japan-action-club
Tokucast #128 – Uchu kara no messeji
https://www.tokusatsu.com.br/tokucast-128-uchu-kara-no-messeji
Tokucast #129 – Uchu kara no messeji: Ginga
https://www.tokusatsu.com.br/tokucast-129-uchu-kara-no-messeji-ginga-taisen